A VALSA DOS ESPERTALHÕES

Fazer da vítima, cúmplice, é o segredo de todo trambiqueiro bem-sucedido.

Saber manipular as emoções, desejos e ambições de quem pouco conhece, ou nunca viu,  é o que faz um bom trapaceiro.

É da natureza.

Dom natural.

Eles nunca desistem.

Se o golpe não sai como planejado, encontram outros momentos.

São persistentes.

Resilientes.

Reincidentes.

A pandemia trouxe infinitas oportunidades para agirem.

O que leva um grupo de empresários, experientes em mesas de negociações, cair na conversa de uma falsa enfermeira para  organizar um drive thru clandestino e vacinar família e amigos, a preço cobrado na cotação do ouro?

Do mais notório enganado, pelos cargos políticos exercidos, já na faixa etária das prioridades do programa nacional de vacinação, tem como ser explicado.

Mais uma vantagem a ser levada na vida de facilidades. De quem nunca encarou fila, nem ônibus lotado.

O inquérito policial ainda não vazou mas seria didático e cômico, que fosse revelado.

A maior pena para quem foi na conversa da irmã de caridade fake deve ser severa e anserina.

Revelar como o pato caiu no conto do paco, é sentença que nunca será prescrita.

Enquanto não sai a versão oficial, não é difícil imaginar o papo que rolou nas franjas das serras alterosas.

Uma sucessão de espertezas, não deixa ninguém desconfiado.

Imagine um primo, imigrante ilegal, trabalhando na faxina da fábrica de vacinas, consegue um desvio ou compra a preço de custo.

Uma mula, com esquema na alfândega, acostumada a driblar a burocracia das importações de medicamentos, faz o transporte e  pelos prazos de validade, é pegar ou largar.

Todos sairiam ganhando.

Até o governo que não cobra mesmo imposto algum destes  produtos.

Um punhado de frascos de imunizantes economizado.

A lábia é o insumo farmacêutico ativo indispensável para a produção  de qualquer arapuca.

Ela também pode ser falada na linguagem oficial dos ofícios, despachos e memorandos.

Usada pra levar no bico, comissões, grupos de trabalho e comitês.

Incluídos os científicos.

Na modalidade trambicagem de alto nível, o prêmio especial, a coroa de louros, já tem um vencedor, neste anno domini do coronavírus.

Não há competidor que se aproxime da performance do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste.

Nove estados, nove governadores, centenas de assessores, consultores, professores-doutores.

Sem faltar nihil obstat, carimbo nem  aprovação dos sempre vigilantes procuradores e controladores, a milionária tratativa foi comemorada em entrevistas coletivas e bajulada em tudo que é blog amigo.

Pagamento antecipado para ingresso na fantasiosa aventura de salvação, à moda de todo cinema que não garante a satisfação do cliente nem a qualidade do que vem pela frente.

Como sói ocorrer no mundo das rebimbocas e parafusetas, os vivaldinos somem; os prejuízos são socializados. Pagos em tributos, taxas e emolumentos.

Ainda bem que a CPI  já foi instalada e tudo será devidamente esclarecido.

Sobre fatos e falcatruas acontecidas na República do Nordeste e do Grão Pará, ninguém vai deixar de ser investigado. E caso culpado, exemplarmente punido.

Os senhores senadores não são de passar a mão em cabeça de menino treloso.