1 de maio de 2024
Comportamento

ACREDITE QUEM QUISER

A túnica de José (1630) – Diego Velázquez- Museu do Mosteiro do Escorial, San Lorenzo de El Escorial, Espanha


Desde que inventaram as meias-verdades, mentiras só prestam, as grandes.

Isso, nenhuma lei que trate de  fakenews consegue captar.

Estórias completamente fora da realidade são contadas, repetidas e aumentadas.

E tem sempre alguém para acreditar nelas.

O difícil é o legislador definir com precisão, o que é mentira, quando há um tantinho, lá no fundo, de verdade.

A não ser os políticos, seguidores do filósofo Millôr Fernandes que aprenderam com ele a  nunca contar uma mentira que não pudesse provar.

As redes sociais são campo fértil para o cultivo de extravagâncias, notícias mentirosas e tudo o mais ao alcance das criativas polpas dos dedos.

No vale-tudo pela primazia da informação, sites desenvolvem ferramentas  para testar a veracidade  antes que vire trending topic e precise ser depois desmentida.

Muitas vezes o fake parece tão verossímil que é passado pra frente por pessoas sobre as quais não pairam dúvidas sobre caráter e credibilidade.

Uma das  mais exuberantes foi a notícia que a Polícia Federal havia apreendido, em algum  lugar escondido na Amazônia,  com uma ONG francesa, um diamante de escandalosas 2,5 toneladas.

Postagens com direito a foto singraram os mares da insensatez.

O professor de Engenharia esqueceu tudo que sabia da teoria das proporções, acreditou na pirita gigante e como um tolo, passou à frente uma verdadeira bomba capaz de decidir a guerra que o exército bolsoleone travava à época,  contra Brigitte Macron.

Sem filtro, sanidade nem educação.

Até esta fantástica pepita amazônica, o recorde pertencia a uma pedra de 620 gramas (4 milhões de vezes menor), garimpada na África do Sul em 1905.

Fortíssimo candidato aos maiores prêmios do fotojornalismo, o registro do furacão Dorian aproximando-se da ilha, só perderia para o instantâneo dos golfinhos levados pelos ventos, acima do píer de Nassau.              

Nem as tragédias inibem os ultradolicocéfalos das montagens digitais.

Nestas terras de Clara Camarão, as notícias falsas são divulgadas até pela propaganda oficial.

Tem quem pense que usa a descarga do banheiro na primeira capital 100% saneada.

Erro de cálculo (essas coisas acontecem) ou a cidade continua crescendo longe dos recenseadores do IBGE, sem tempo – nem valas – para enterrar os 65% dos canos que restam.

A Arte é a Mentira que nos permite conhecer a Verdade

A Forja do Vulcão (1630) – Diego Velázquez – Museu do Prado, Madri                                                                               *** Velázquez transformou um tema mitológico numa cena real, em que Vulcano é um ferreiro comum, trabalhando na sua forja, e os ciclopes são seus aprendizes. Apolo apresenta-se como deus, com sua auréola brilhante Ele é a luz que ilumina Vulcano, para que tome conhecimento da traição de sua mulher, Vênus.

***

A túnica de José (1630) 

Os filhos de  Jacó contam ao pai que o favorito, José, morreu devido a um ataque de lobos.

Por inveja, eles haviam vendido o irmão a comerciantes egípcios, e mostraram as roupas de José, que pouco antes haviam manchado com o sangue de um cordeiro


(Publicação original em 10/09/2019

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