15 de maio de 2024
Coronavírus

ÁGUAS PASSADAS

A Banheira (1886) – Edgar Degas – Museu de Orsay, Paris

Acusados como responsáveis pela origem da maior pandemia da história, os chineses  deram ao resto do mundo, lições de disciplina, resiliência e solidariedade.

Além de particularidades geográficas e climáticas, seus costumes também foram estudados em minúcias.

Como os alimentares que fazem dos mercados vivos, fontes de transmissão de doenças, de alguns animais para os omnívoros humanos.

O interesse  foi despertado também para os hábitos de  higiene do seu povo.

Entre tantos exemplos deixados pelo  fundador da república popular, o grande timoneiro Mao Tsé-Tung, ao menos um não pode ser chamado de edificante.

O pouco cuidado com a própria limpeza corporal.

O camarada se espelhava nos tigres siberianos para nunca escovar os dentes.

Sua dentição felina era conservada com a esfregação de ervas, nem sempre aromáticas.

Banho, considerava perda de tempo, obrigando seus auxiliares a passarem uma esponja úmida em partes estratégicas, quando tinha que trocar de roupa.

A negligência  com o próprio corpo não impediu que fosse um conquistador de coraçõezinhos apaixonados e que deflagrasse a maior mobilização sanitária que se tem notícia.

Operação de guerra e dogma ideológico.

A ordem era acabar com as quatro pragas, os grandes males que afetavam seu império  em meados do século passado.

Mosquitos, moscas, ratos e pardais.

A simpática ave entrou no corredor da morte pelo instinto, pouco econômico, de dar bicadas nas sementes de arroz.

Foi necessária uma brutal queda na produção do principal alimento, para descobrirem que o passarinho também exterminava insetos mais vorazes ainda.

O desequilíbrio  ecológico não fez parar a empreitada, mas provocou mudança na escalação do time dos vilões.

Os chinos deixaram de derrubar ninhos de pássaros e foram catar percevejos.

Hoje os comunistas modernosos são cheirosas.  Lavam as ruas, cidades e tudo onde o vírus possa pousar mas o exemplo do líder não foi de todo esquecido.

Tomar banho, principalmente nas periferias das megalópoles ocidentalizadas e nas vilas agrícolas não é pra todo mundo. Nem pra todo dia.

Trocar de roupa é rotina quinzenal. Menos no inverno.

Em qualquer lugar, em todas as terras, de Europa, França e Trancoso, o salutar lavatório é desistimulado pelo frio. Em muitos lugares, basta um semicúpio. Um tcheco.

Do lado de cá da linha de Tordesilhas, os usurpadores entre outras riquezas, tomaram dos índios, o costume do banho.

Na capitania desprezada pelo donatário, ficou para o folclore da grande peste, o alerta  do governo, para o perigo do banho cotidiano.

Já no início do período de chuvas regulares, o risco da escassez hídrica foi acrescentado ao pânico que se instalava no aparecimento dos primeiros casos,.

Calculado, em abril de 2020,  o estoque do precioso líquido nas lagoas potiguares, era suficiente apenas para lavagem das mãos e rápidas duchas de, no máximo, dois minutos. Em dias alternados.

Esqueceram as autoridades,  que a água  economizada nas fábricas, comércios, hotéis e restaurantes fechados, sobraria para o refrescante banho nosso de todo calor.

Mulher Enxugando o Braço Esquerdo (1884) – Degas – Museu de Arte de São Paulo, Brasil

One thought on “ÁGUAS PASSADAS

  • Dr. Domício é muito modesto. Na verdade, ele fez o MOBRAL muito bem feito. Tem produzido excelentes textos. Todos sabem de minha exigência no cumprimento do meu juramento ao receber o canudo das mãos do magnífico Reitor Onofre Lopes que posteriormente me convidaria para fundar uma gráfica na UFRN, depois elavada a editora.

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