6 de maio de 2024
Educação

AINDA É TEMPO DE ENSINAR

 

O Exame da Escola (1862) – Albert Anker – Museu de Belas Artes de Berna, Suíça


Imagine uma cidade tão grande onde coubessem todos os habitantes de
São Paulo e Rio de Janeiro.

Seria a maior do mundo.

Este é o tamanho real e cruel  do analfabetismo em nosso país.

Brasileiros, acima dos 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever, são estimados em 8,5% da população. Mais de 18 milhões de almas analfabetas.

O assunto passou ao largo das campanhas eleitorais.

E da sensibilidade dos futuros governantes de esquerda e de direita.

Não se vê movimento para mudar esta realidade perversa.

Djalma Maranhão marcou a vida pública com o De Pé no Chão Também de Aprende a Ler.

Aluízio Alves deu oportunidade para Paulo Freire demonstrar na prática, seu revolucionário método de ensino nas 40 Horas de Angicos.

No RN,  a taxa de iletrados passa dos 18%. O dobro da nacional.

São mais de  500 mil cidadãos e cidadãs.                

Duas Mossorós.

No sítio de Areia Branca nunca havia entrado nada para ser lido.                         

Livro, revista, jornal.             

Nem mesmo o Almanaque do Biotônico.

Não havia necessidade, para fazer o que se aprendia com o pai, ensinado pelo avô.

Plantar, rezar por chuva, colher e cuidar das criações.                                    

Nas raras viagens, os letreiros nas fachadas das lojas era o que de mais interessante encontrava.

E hipnotizavam o menino trabalhador, quais desenhos hieróglifos a serem decifrados.

Mistérios da cidade grande.

Início dos anos 60.

O rapazinho de 18 anos apresenta-se ao serviço militar.

Na seleção, pelo porte e compleição física, seria dos primeiros selecionados.

Na entrevista, o desejo de servir a pátria, não evitou o iminente corte por não saber ler.

Um jovem tenente, esquecendo o regulamento, fez um desafio ao recruta.

Ignoraria sua deficiência com  o compromisso de aprender a ler enquanto estivesse no quartel.

Na segunda oportunidade, fez o curso de cabo.         

Tomou gosto pelo fantástico mundo das letras e números e com louvor, foi aprovado nos supletivos do primeiro e segundo graus.

Animou-se.

Fez curso para sargento.

Depois da baixa, arranjou um cantinho pra rede, na casa de  um parente na capital.                                      

Muita pestana queimada e a inacreditável aprovação no vestibular de Medicina.

Daí pra frente, conseguiu tudo que queria e nunca tinha imaginado (nem sonhado) na vida.

Uma oportunidade para outros Antônios, por que não uma prioridade de governo?

A creche 1890 – Albert Anker – Museu de Arte Winterthur, Zurique, Suiça

(O assunto e exemplo de vida já foram abordados neste TL em 29/11/2019)

 

One thought on “AINDA É TEMPO DE ENSINAR

  • Luíz Costa

    Bom dia e boa leitura. O aprendiz é leitura obrigatória faz tempo. Grande e fraterno abraço.

    Resposta

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