AINDA É TEMPO DE ENSINAR
Imagine uma cidade tão grande onde coubessem todos os habitantes de São Paulo e Rio de Janeiro.
Seria a maior do mundo.
Este é o tamanho real e cruel do analfabetismo em nosso país.
Brasileiros, acima dos 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever, são estimados em 8,5% da população. Mais de 18 milhões de almas analfabetas.
O assunto passou ao largo das campanhas eleitorais.
E da sensibilidade dos futuros governantes de esquerda e de direita.
Não se vê movimento para mudar esta realidade perversa.
Djalma Maranhão marcou a vida pública com o De Pé no Chão Também de Aprende a Ler.
Aluízio Alves deu oportunidade para Paulo Freire demonstrar na prática, seu revolucionário método de ensino nas 40 Horas de Angicos.
No RN, a taxa de iletrados passa dos 18%. O dobro da nacional.
São mais de 500 mil cidadãos e cidadãs.
Duas Mossorós.
No sítio de Areia Branca nunca havia entrado nada para ser lido.
Livro, revista, jornal.
Nem mesmo o Almanaque do Biotônico.
Não havia necessidade, para fazer o que se aprendia com o pai, ensinado pelo avô.
Plantar, rezar por chuva, colher e cuidar das criações.
Nas raras viagens, os letreiros nas fachadas das lojas era o que de mais interessante encontrava.
E hipnotizavam o menino trabalhador, quais desenhos hieróglifos a serem decifrados.
Mistérios da cidade grande.
Início dos anos 60.
O rapazinho de 18 anos apresenta-se ao serviço militar.
Na seleção, pelo porte e compleição física, seria dos primeiros selecionados.
Na entrevista, o desejo de servir a pátria, não evitou o iminente corte por não saber ler.
Um jovem tenente, esquecendo o regulamento, fez um desafio ao recruta.
Ignoraria sua deficiência com o compromisso de aprender a ler enquanto estivesse no quartel.
Na segunda oportunidade, fez o curso de cabo.
Tomou gosto pelo fantástico mundo das letras e números e com louvor, foi aprovado nos supletivos do primeiro e segundo graus.
Animou-se.
Fez curso para sargento.
Depois da baixa, arranjou um cantinho pra rede, na casa de um parente na capital.
Muita pestana queimada e a inacreditável aprovação no vestibular de Medicina.
Daí pra frente, conseguiu tudo que queria e nunca tinha imaginado (nem sonhado) na vida.
Uma oportunidade para outros Antônios, por que não uma prioridade de governo?
(O assunto e exemplo de vida já foram abordados neste TL em 29/11/2019)
Bom dia e boa leitura. O aprendiz é leitura obrigatória faz tempo. Grande e fraterno abraço.