2 de maio de 2024
Natal

AO BOM VELHINHO

Tropical (1917) – Anita Malfatti – Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo

Querido Papai Noel,

Talvez o senhor estranhe essas linhas tão em cima da hora da festa.

A pressa não é pra este ano.

Sabemos que já está acabando e não há mais tempo para quase nada, a não ser para quem quer melar uma certa posse.

O senhor deve se lembrar da gente.

Somos do estado cuja capital foi batizada em homenagem à  razão da sua vida.

Dá pra entender que talvez o senhor não tenha preocupação com a  gente porque com este nome tão bonito, com toda razão, podia pensar que não precisássemos de ajuda.

Aquela velha estória.

Lugar abençoado. Sem catástrofes.

Temos terremoto sim, de baixa magnitude.

E só pras bandas de Baixa Verde.

Vulcão, um único, o de Lajes do Cabugi. Nunca mais funcionou.

Mesmo com tudo pra dar certo, a situação ainda está precária.

De pior a pior, como a cantiga da patroa  do bicho que não gosta nem um pouco das suas festanças.

Quando descobriram petróleo quase aflorando na terra seca, foram logo pensando em mais um emirado árabe. Ou mesmo, um novo Texas.

Depois de toda aquela  rapinagem já perdoada, deram  pra vender os poços.   A preço de banana pacovan.                           

Foi um Carnatal fora de época.

Ainda bem.

Pra não dar perda total, só com os buracos e estradas em petição de miséria, apareceram uns baianos pra tocar o negócio.

Até a exportação de frutas tem dado pra trás.                 

Foi-se o tempo que a gente andava todo orgulhoso que o nosso melão espanhol estava na mesa da imensa torcida merengue. E dos blaugranas.

O porto está a perigo.

Mal localizado, com  acesso por ruazinhas estreitas, andou exportando  com sucesso, o que se produz clandestinamente a 8 mil km.

Em dinheiro que não paga imposto, vinha sendo nosso principal produto de exportação.

Agora nem isso.

A rota foi desviada pro Ceará.

No outro pó, continuamos firmes. E fortes.

Mas por aquele precinho conhecido.

E ainda por cima, com os cardiologistas dizendo que faz mal à saúde, tamos fritos.

No dendê.

Burrinho correndo (1909) – Anita Malfatti – Coleção privada

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