AULAS EM TEMPOS DE PANDEMIA
(Publicação original em 25/04/2019)
Para quem acompanhou os maiores avanços da didática no século passado, ver, pelo videofone, as aulas dos netos, no tablet, é de se conformar com a classificação de grupo de risco pela idade.
Quando o quadro negro trocou de roupa e vestiu verde, para não cansar a vista do aluno, foi um espanto.
Depois, o terror dos professores alérgicos, giz que não soltava pó, era de não se acreditar em tanto avanço.
De cair o queixo, quando ganharam cores além da branca.
Será que os professores ainda escolhem um pupilo para copiar as aulas?
No pendrive.
Ou elas ficam nas nuvens?
O PARAÍSO NÃO É ALI
Não dá pra contar quantos professores tivemos ao longo da vida.
Com o passar do tempo vamos esquecendo deles e sejamos francos, muito poucos são lembrados.
Vez por outra, em conversas com antigos colegas, nos vem à memória, alguém especial.
Não por ter nos ensinado alguma matéria específica, de conteúdo técnico e importante para uma futura profissão.
Falo de quem, lá num passado remoto, dava os primeiros conselhos para a vida real.
Professor Amadeu, de Português, seria considerado hoje, um homem maduro.
Cinquentão. Para quem estava na terceira série ginasial, já era um velho, dobrando o Cabo de São Roque.
Baixinho e mais pra gordo, chegava sempre meio cansado, derrubava a pasta surrada em qualquer lugar, sentava-se ao birô (estará certo o emprego deste adjunto adnominal?) e logo no começo da aula, chamava sempre o mesmo voluntário à lousa.
Ditava a lição, e o pupilo aqui, por ter boa caligrafia, acompanhava-o no chiado do giz.
Reclamações eram frequentes. Por qualquer demora ou se um cê-cedilha entrasse no lugar de um dois-esses.
A bronca vinha em forma de cara feia ou uma coçada impaciente na avançada calva.
Eram anos AX (Antes da Xerox). Depois, o auxiliar de professor se virava para copiar tudo outra vez. De algum caderno emprestado.
Quando a turma, com fama de ser quase toda de filhinhos do papai, demonstrava pouco interesse, vinha a reprimenda, em forma de alerta que o tempo mostrou ser tão verdadeiro:
-Não se iludam. O paraíso não fica ali, por trás dos muros do Colégio Santo Antônio.