4 de maio de 2024
Luxo

BON DIEU DE MERDE !

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Golconda (1953) – René Magritte – Menil Colletion, Houston Texas

Dizem que o cavalo selado só passa nas nossas vidas, uma única vez.

Mon cheval pur-sang français est déjà passé, e a estória foi contada há um ano.

Desde então, só têm chegado mensagens de trambiqueiros chinfrins, se passando por advogados de sindicato, contando de ações secretas milionárias ganhas e precatórios que viram sonhos que não duram uma noite de verão, acordado pelo aviso de golpe, no WhatsApp dos colegas de turma e infortúnios de aposentados.

MERCI, MONSIEUR PINAULT

Restrições impostas pelos servidores de internet podem estar afastando de muita gente, a fortuna e a boa vida.

Oportunidades únicas na vida são desprezadas, jogadas fora, e lixo, acabam numa caixa de spam qualquer.

O acaso, a sorte e o que o bicho cibernético ainda não comeu, aparecem sempre.

Numa limpeza de pastas do correio eletrônico, o garimpo de bons negócios, pechinchas em promoção e até grandes amores,  às vezes acontecem.

O aviso já veio, claro e em bom português de tradutor automático, desde o primeiro parágrafo.

Em campo minado por fakenews e dominado por vivaldinos e  golpistas, era a necessária garantia de confiança e tranquilidade.

Tão verossímil que recomendava que  a mensagem que acabara de abrir devia  ser tratada como autêntica.

O caro (e curioso) destinatário  estava sendo comunicado que um certo  Sr. François Pinault havia feito a ele, uma doação de 3.000.000 de libras. Esterlinas. Em Reais, mais de 20 milhões.

Assim, com todos os zeros e nenhuma outra  explicação.

Para que o santo não desconfiasse de tamanho milagre, e não restassem dúvidas da veracidade do butim, dois links estavam ali ao alcance de um toque,  na ponta do dedo,  para os esclarecimentos.

A revista Forbes tratava de uma disputa entre dois dos mais milionários dos milionários franceses. Compras de ações e trocas de comando de empresas. Negócios de bilhões de euros que acabaram nas barras dos tribunais.

O perfil do generoso doador na ilustração da matéria, e a biografia na Wikipedia apresentaram o personagem, acabando com o anonimato.

O anjo da prosperidade vem de origem humilde.

Nascido na Bretanha,  filho de um comerciante de madeira, criou seu próprio negócio, no mesmo ramo da família, com um empréstimo de meros quinze mil dólares.

Muito trabalho e a proximidade com políticos influentes, deram uma manzorra.

Amigo próximo do presidente francês Jacques Chirac, ele agora é dos maiores magnatas da França, com ativos que atravessaram o Atlântico Norte.

Nos EUA, possui participações em estações de esqui de Vail, no Colorado, malas Samsonite, serviços de água e esgotos em várias cidades, entre  outras empresas.

No ano passado, adquiriu a Sanofi, que inclui Yves Saint Laurent, Oscar de la Renta, Van Cleef & Arpels, Roger & Gallet, Krizia e Fendi.

Com um patrimônio avaliado em 43 bilhões de dólares, o dono de uma das lojas de departamentos mais charmosas do mundo, a galeria Au Printemps, é também  colecionador de arte e mecenas.

Parte de sua coleção está em Veneza, cidade onde restaurou o Palazzo Grassi, a Punta della Dogana e o Teatrino.

Em Paris, está investindo 100 milhões de euros para transformar o antigo edifício da Bolsa do Comércio em museu de arte contemporânea, com capacidade para 10 grandes exposições por ano.

Aos 84 anos, proprietário de vinícolas em Bordeaux, no Rhône e Napa Valley, com os filhos cuidando dos negócios, Monsieur Pinault pode se dedicar a outras atividades.

Como,  distribuir sua cordilheira de dinheiro com quem quiser e entenda.

Se nos próximos dias, o leitor der pela falta dos arremedos de crônicas neste Território Livre, fique certo.

Tem um nouveau riche curtindo a vida adoidado, pelo litoral sul.

***
Bon  Dieu de Merde é uma expressão que os franceses usam nas ocasiões de espanto, em que costumamos dizer: Caramba, Minha Nossa Senhora, Meu Jesus Cristo, Meu Deus, Pelo Amor de Deus, Pô…, ‘Ponte Que Caiu’.

Todas, seguidas de muitos pontos de exclamação !!!!

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O princípio do prazer – René Magritte (1898/1967) – Quadro arrematado em 2018, por 23 milhões de euros

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