28 de abril de 2024
Opinião

Campanha solteira dispensa partidos e não planta candidaturas do futuro

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 07/10/20

Quando os partidos políticos acabaram, extintos pelo Ato Institucional nº 2, em 1965, o Rio Grande do Norte tinha sua política sempre estadualizada, gravitando em torno do nome de um candidato a Governador no próximo pleito, ou de uma grande liderança estadual.

Mesmo quando Aluízio Alves e Dinarte Mariz se abrigaram numa mesma legenda, a ARENA, que dava suporte ao governo dos militares, aqui funcionava uma Arena-verde (de Aluísio) e Arena-vermelha (de Dinarte) cada um buscando a conquista do Governo do Estado para um dos lados, que espertamente estavam no único partido que poderia eleger o Governador e que atraiu os dois.

Faltando só 33 dias para a eleição municipal não se consegue identificar nada que represente um partido e o resultado das urnas possam somar de alguma forma para algum partido ou candidatura em construção.

O único nome posto para 2022 é o da governadora Fátima Bezerra, candidata à reeleição, mas lhe falta um partido estadual, em razão da desidratação do PT nos eleitorados urbanos, onde ele nasceu e formou-se até conquistar o Governo, num movimento inverso ao que acontecia no resto do Brasil. Nesse quadro, estamos vivendo a mais solteiras das campanhas eleitorais. Solteiríssima quando faltam nove semanas até o voto.

DEMOCRACIA SEM PARTIDOS

A falta de partidos políticos de verdade vai muito além das fronteiras estaduais.

O Presidente da República não tem partido. Afastou-se da legenda que permitiu sua candidatura e não conseguiu viabilizar a sua própria. Ainda. Tendo se obrigado a recorrer ao Centrão cansado de guerra para ter uma base parlamentar.

Mesmo sem um partido para chamar de seu, o capitão Jair Bolsonaro aparece liderando a corrida presidencial com 37% das intenções de voto, derrotando Lula o mais forte fora ele.

A posição de conforto do presidente se configura pela falta de um nome capaz de conquistar o voto da direita, assim como o PT não conseguiu produzir uma só candidatura, além de Lula.

Quem resolveu se lançar candidatos, Wilson Witzel, governador do Rio de Janeiro, foi afastado do cargo e já fez um “mea culpa” confessando o seu erro de lançar-se candidato sem ter preparado uma base política a avalizar tal ideia.

OS NOMES DO RN

No nosso Rio Grande do Norte quem se prepara para disputar a eleição de 2022?

– Até o presente, como foi dito, apenas a governadora Fátima Bezerra emite discretos sinais de interesse na eleição de 2022.
Mesmo tendo o único partido político que funciona como tal, Fátima acena para políticos de outros partidos, tentando repetir o movimento do 2º Turno em 2018, quando atraiu os políticos que tinham tudo para apoiar o seu adversário e ganharam com ela.

Fátima tem o Governo e um partido que, no RN, não conseguiu crescer quando tinha o Presidente da República, como não tem conseguido crescer com a Governadora do Estado.

A precariedade do PT fica clara quando se observa que o partido não se mostra competitivo em nenhum município de peso, além de Currais Novos, cujo Prefeito disputa a reeleição com amplas possibilidades.

Nos maiores eleitorados o PT vai ocupar posição de coadjuvante, dificilmente conseguindo mostrar algum avanço em relação ao último pleito, quando se fizer o balanço final dos votos. No maior eleitorado, Natal, tem a pior posição dos últimos 25 anos.

E a meta da presente campanha é tornar conhecido o senador Jean Paulo Prates, suplente de Fátima em 2014.

PROCURA-SE GOVERNADOR

E quem será o candidato contra Fátima?

A falta de um candidato natural, existe mesmo com um ponto importante que é o fato de, pela primeira vez, o RN contar com dois Ministros de Estado dos quadros estaduais, num mesmo governo.

Mas, nem Rogério Marinho, nem Fábio Faria, tem feito qualquer movimentação que possa ser interpretada como parte de uma ação mirando 2022, com a força dos seus ministérios.

Fora eles, o Presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira de Souza, foi o único que cuidou de fortalecer o seu partido, o PSDB, mas não tem aproveitado a campanha para fixar seu nome como candidato ao Governo.

Tem ainda o ex-governador Robinson Faria e o candidato derrotado em 2018, Carlos Eduardo Alves, mas, os dois sabem que uma eventual candidatura não depende só deles. Um ou outro só se viabiliza se conseguir agregar outras forças.

AGREGAR É PRECISO

Some-se a isso, outro fato único: – As três maiores lideranças políticas do RN – com influência aqui e em Brasília – estão sem mandato.

Garibaldi Alves Filho, José Agripino e Henrique Eduardo Alves, aparentemente não cuidam de nenhum projeto político, exceto Garibaldi que dá demonstrações de nada pleitear a não ser fortalecer o filho, deputado Walter Alves, que preside o diretório e4stadual do MDB, um grande partido, atuando como fazem os presidentes dos atuais partidos políticos que tem a legenda apenas de olho na próxima eleição proporcional, pensando na reeleição do seu donatário.

Do ponto de visto político, o Rio Grande do Norte transformou-se num arquipélago, sem ninguém interessado em agregar a ilha vizinha num projeto estadual que pressupõe a união de forças para enfrentar disputas futuras e almejar o Governo do Estado.

A não ser que das urnas de 15 de novembro saia alguém, ungido pelo voto, que se interesse pelo RN como um todo, e não se contente, apenas, como uma parcela. Alguém que tenha coragem de jogar no pleno.

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