1 de maio de 2024
Bom Saber

Cinema: “40 horas de Paulo Freire” em Angicos vai virar filme

Do Globo 

Entre janeiro e abril de 1963, os cerca de nove mil habitantes de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, não poderiam imaginar que fariam parte de uma verdadeira revolução da educação, cujos reflexos são debatidos até hoje.

Então com 75% de sua população formada por analfabetos, a cidade viu 300 de seus moradores aprenderem a ler e escrever em 40 horas de aulas, ministradas pela equipe de jovens universitários liderada por Paulo Freire.

A aplicação do método que leva o nome do pedagogo pernambucano, reconhecido mundialmente, ganhou caráter histórico quando a sua última aula, em 2 de abril, foi dada pelo próprio presidente da República, João Goulart.

A cerimônia de formatura contou com a presença de outras autoridades, como o governador potiguar Aluízio Alves e o então comandante da Região Militar no Recife, o general Castelo Branco — que, ao final da formatura teria dito a jornalistas que estavam “engordando cascavéis nesses sertões”. 

Um ano depois, o general seria empossado como o primeiro presidente militar da período ditatorial. Entre os primeiros atos do novo regime, Paulo Freire seria preso e seu do Programa Nacional de Alfabetização, implementado no início de 1964, desarticulado.

É justamente a experiência de Angicos que será o ponto de partida para uma cinebiografia inspirada no livro “O educador: Um perfil de Paulo Freire” (2019), de Sérgio Haddad, cujos direitos foram adquiridos este ano pelo cineasta Cao Hamburger e seu filho, Tom.

Os dois estão em estágio de pesquisa para o roteiro, que contará com consultoria do próprio Haddad e Madalena Freire, filha do pedagogo, que participou do projeto pioneiro ao lado do pai.

— Para além da importância histórica, a experiência de Angicos é muito forte narrativamente. Foi uma chave tanto para a obra teórica que o Paulo escreveu depois quanto para outros momentos marcantes da sua vida, como o exílio e a volta após a Anistia — comenta Cao. — O cinema e a TV, como entretenimento de massa, trazem a possibilidade de levar essa história a um público maior. Muita gente que hoje diz não gostar do Paulo Freire, mas sem nem saber sobre o que é a sua obra, vai poder conhecê-lo .

Para pai e filho, filmar a vida de Paulo Freire é um desdobramento natural de uma família envolvida com a educação.

Cao ganhou dois Emmys Internacional com séries relacionadas ao tema: “Pedro & Bianca” e “Malhação: Viva a diferença”.

Tom lança no Dia das Crianças a série “Caverna de Petra”, no Canal Futura. Ana Maria, mulher de Cao, e Carolina, sua filha, são educadoras — esta última, coincidentemente, teve um projeto na Escola Municipal Nelson Mandela reconhecido ano passado com o Prêmio Paulo Freire de Qualidade do Ensino Municipal, dado pela Câmara de Vereadores paulistana.

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