Colapso de Manaus é o retrato do negacionismo do poder público aliado à irresponsabilidade dos cidadãos
Do editorial do Estadão
Não foram poucas as vozes que no fim do ano passado alertaram para a iminência de uma explosão de contaminação e mortes por covid-19 no País nas primeiras semanas de 2021.
É exatamente o que se vê agora. Não foi presságio e tampouco mau agouro dos especialistas em saúde pública.
Foi apenas a antevisão de uma consequência lógica da irresponsabilidade com que muitos governantes e cidadãos se portaram diante da ameaça de contágio pelo novo coronavírus durante os festejos e férias de fim de ano.
Agora, a incúria, o egoísmo e o desmazelo de tantos que puseram a fruição individual acima do interesse coletivo apresentam uma pesada conta
O colapso do sistema de saúde em Manaus é o retrato cruel de como a negligência e o negacionismo do poder público, aliados à irresponsabilidade dos cidadãos que fazem pouco-caso das medidas protetivas contra o vírus, são mortais quando se está diante de uma crise sanitária da magnitude da pandemia de covid-19.
Não se chega a um estágio desses sem uma longa esteira de erros e omissões.
Fiel à sua índole, o presidente Jair Bolsonaro foi rápido ao fazer circular a informação de que o governo federal repassou R$ 8,91 bilhões ao Estado do Amazonas e R$ 2,36 bilhões à cidade de Manaus, sugerindo que nada tem a ver com o desastre havido na capital amazonense.
“Fizemos a nossa parte”, disse o presidente ao grupo de apoiadores que batem ponto na entrada do Palácio da Alvorada.
Em primeiro lugar, repasses da União aos Estados e municípios decorrem das leis e da Constituição, não da boa vontade do presidente da República. Bolsonaro não fez nada além de sua obrigação ao repassar os recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), além dos recursos extraordinários aprovados pelo Congresso para dar conta do enfrentamento da pandemia.
Segundo, em nenhum momento desta emergência sanitária o resultado trágico em Manaus ou em qualquer outro município decorreu da falta de dinheiro. Faltou ao governo federal compromisso com os fatos, com a ciência, com a vida. Faltou a coordenação, no âmbito federal, dos esforços nacionais para debelar a peste.
Sobre o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), também recai uma boa parcela da responsabilidade pelo colapso da saúde pública em Manaus por ter cedido à pressão de empresários e autorizado a flexibilização das atividades comerciais no Estado, contrariando as recomendações das autoridades sanitárias. “Eu preciso ouvir a voz das ruas”, justificou o governador.
Por esta sua “insurgência” contra a “ditadura do lockdown”, Lima foi bastante festejado por apoiadores do presidente Bolsonaro.
Manaus foi uma das cidades que sucumbiram ao falso dilema entre a “liberdade” individual e o “arbítrio” das medidas de contenção ao novo coronavírus.
Como a natureza é implacável, o resultado não haveria de ser outro: o aumento do número de mortes por um dos meios mais cruéis, a asfixia.
As três esferas de governo agora se mobilizam para socorrer os manauaras. Para muitos, entretanto, a ajuda chega tarde demais. Até onde irá o desgoverno?
A sua materia e os comentarios estao perfeito , so faltou a Sra Jornalista acrescentar o fato da irresponsabilidades dos poderes liberar a campanha eleitoral que contribuiu e muito para o que esta acontecendo nesse momento.