9 de maio de 2024
EducaçãoMemória

DE OLHO NO VESTIBULAR

O Circo (1928)- Carlitos, Charles Chaplin


Há três anos, o tema da redação do ENEM surpreendeu os jovens que nunca frequentaram pulgueiros: Democratização do Acesso ao Cinema no Brasil.

Nestes ambientes assépticos de salas VIPs,  de poltrona reclináveis e serviço de bordo, a viagem mais fascinante leva  os   saudosistas,  para  o cinema da infância que a tecnologia 3D não consegue apagar da lembrança.

É tempo de contar aos jovens que queimam os miolos para redigir em linguagem vernacular,  escorreita e castiça, como pode ser mais democrática,  a sétima arte.

O tempo traz à memória, com sentimento de perda, até o motivo de bagunça, assobios e apupos.

Quando as sessões eram medidas em partes, com inevitáveis  trocas dos rolos.

Com as luzes acessas, quanto mais rápido voltasse a projeção, melhor era considerado o cine.

Na  ocorrência de algum engano nas latas das fitas trocadas, não tinha como continuar uma estória, sendo projetada a segunda parte de uma outra.

Quero meu dinheiro de volta.    

Reclamação recorrente e repetida não só em  cada interrupção ou demora, mas em qualquer frustração à qualidade artística esperada.

Incluídas as propagandas enganosas dos cartazes da entrada.

Na tela remendada,  romance água-com-açúcar; ao lado da bilheteria, Randolph Scott assoprando o cano esfumacento do três oitão do faroeste.

Não se encontram mais salas de cinema  onde antes havia goteiras, pulgas  e morcegos de assustadores voos rasantes.

Fitas gastas, arranhadas, cheias de riscos, manchadas, e quem levava a culpa era a mãe do projecionista.

Bem verdade que som surround já existia. Muito mais avançado que o modernoso quadrifônico de hoje. Integrava à trilha sonora, o barulho do trânsito e das conversas na calçada.

No imponente prédio de pé direito alto, porteiro carrancudo que deixava passar os menores não pagantes mas acompanhados, cortinas puídas e cheiro de mofo, ingresso era de todo preço e pra todos os gostos.

Poltronas, sem estofados.

Primeira classe.

Com direito a entrada de almofadas trazidas de casa.

Bancos, com e sem encostos, nas filas mais próximas ao écran.

Corredor lateral reservado à platéia em bipedestação.

Descontos especiais para os retardatários que pegavam o enredo no meio da missa. E depois, pediam pra algum amigo contar o começo da trama.

Que sessões continuas eram luxos encontrados somente nas telonas em cinemascope das metrópoles.

Também pr’aqueles que esperavam, do lado de fora, com certa impaciência, o The End para assistir somente o seriado.

De lotação sempre esgotada para o de Flash Gordon.

Nunca mais haverá  sala de projeção mais democrática que o Cine Éden, o Cinema Paradiso do Agreste.

O garoto (1921)- Carlitos, Charles Chaplin

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