6 de maio de 2024
Opinião

Democracia potiguar e as muitas transições

 

Roda Viva – Tribuna do Norte – 18/10/23

A maior dúvida para os principais formuladores e/ou planejadores da política do Rio Grande do Norte nesse momento é adivinhar o que a governadora Fátima Bezerra pensa do seu próprio futuro.

Antes de completar 70 anos – auge para qualquer político brasileiro – a resposta a essa questão começa em saber se a atual Governadora do RN, vai renunciar o seu mandato em 2026 ou se permanece no cargo até o janeiro de 2027.

Não é difícil identificar o maior interessado em ter essa resposta: – o vice governador, Walter Alves (MDB), para definir o seu próprio futuro.

Para Alves a renúncia da Governadora é a opção mais confortável, porque assumindo o Governo, ele se fortalece para ser o candidato, com o apoio de Fátima que seria a candidata natural ao Senado, de onde veio para se  eleger Governadora.

Dando certo essa hipótese, Walter não poderá ser reeleito. Mas Fátima será premiada com um mandato de Senador (oito anos) e com força política para continuar no comando estadual do PT,  formar no alto comando do PT, e um lugar de destaque no plano nacional.

A MOÇA DA PARAÍBA

Fátima chegou a Natal nos anos ´70, ainda adolescente, vinda de Nova Palmeira (fronteiriça com o Trairy potiguar) para estudar, e conseguiu um lugar no curso de Pedagogia depois de aprovada no vestibular da UFRN, tendo se formado em 1980.

Conhecendo pouca gente em Natal, a migrante da Paraíba enturmou-se no movimento estudantil, e abraçou o time de futebol do seu coração, o ABC, como típica representante das classes populares, descolando um lugar de professora na rede municipal de Natal.

Já formada, entrou na porta aberta do sindicalismo, vencendo sua primeira eleição, em 1980 vice-presidente (e Presidente em 1982) da Associação dos Orientadores Educacionais, secretária-geral da Associação dos Professores até assumir a presidência do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN.

Na carreira sindical já era uma filada do Partido dos Trabalhadores, que tinha uma força eleitoral reconhecida entre os docentes.

Fátima filiou-se ao PT em 1981, se qualificando como um quadro promissor a merecer atenção especial

ACOMODAÇÕES DEMOCRÁTICAS

O Governo dos militares dava sinais de exaustão. O Rio Grande do Norte havia se acomodado numa fórmula em que duas famílias detinham o controle do poder estadual, embora se tratassem como inimigas mesmo  agasalhadas num mesmo partido, o partido do Governo, e um chavão tentando explicar o inexplicável:

“Apoio total ao Governo Federal, mantidas as divergências no plano político estadual…”

As famílias Alves e Maia mandavam no Rio Grande do Norte referendadas pelo fato dos seus líderes, Aluízio Alves (Governador eleito em 1960) e Tarcísio Maia escolhido Governador, enfrentando os efeitos das crises do petróleo, em 1974.

A abertura política começava a ser discutida e a campanha das “Diretas Já” contribuía com participação popular efetiva na política brasileira, o  que não acontecia desde a deposição do presidente João Goulart, com a realização de grandes mobilizações levando multidões para as ruas em todo o Brasil.

O PT que havia eleito o seu primeiro Deputado Estadual, o professor Júnior Souto, firmou-se como a principal força da esquerda do RN, tendo o movimento dos professores como sua principal base eleitoral e o apoio dos sindicatos.

CONSTITUIÇÃO 35 ANOS

Nossa Constituição Cidadã, nos seus 35 anos, já ensejou a necessidade de algumas transições, que atingiram as forças maiores (forças político familiares) que não conseguiram sobreviver às novas realidades e não chegaram aqui nem como a sombra do poderio que possuíram.

A multiplicação das legendas partidárias (e o dinheiro do fundo partidário) terminaram construindo uma nova realidade. Os Alves contando com a marca MDB, mas lhe faltando a indispensável unidade familiar.

Dos Maia, nenhum possui mandato popular, mas José Agripino é um dos cardeais do União Brasil, e tem atuado também em nível estadual.

O PT para atravessar essas transições teve de criar um sistema binário que preservou os mandatos de Fátima (Deputado Estadual) e de Fernando Mineiro (Vereador em Natal). Fátima disputou a Prefeitura de Natal quatro vezes: 1996, 2000, 2004 e 2008, enquanto Mineiro disputou a Prefeitura em 2012 e 2016.

O Partido dos Trabalhadores adotou no RN uma estratégia excessivamente pragmática para um partido de esquerda. Mas, foi assim que Fátima se elegeu Deputada Federal em 2002, 2004, 2008 e 2010. Funcionando o sistema binário com Fernando Mineiro, Deputado Estadual e Federal, os dois dividindo o comando partidário.

TRANSIÇÃO NÃO PARA

Os indícios são claros que o Rio Grande do Norte vive neste momento uma nova transição dentro das quatro linhas da Constituição do dr. Ulisses.

Partido do Governo Federal e Estadual, o PT vem de seis derrotas para Prefeito da Natal e agora possui uma candidatura gestada fora do controle petistas, a única novidade que produziu fora do script partidário, a jovem deputada Natália Banevides conseguindo um mandato federal e se viabilizando candidata a Prefeito mesmo sem contar com o bafejo de Fátima e Mineiro.

Noves fora Natalia, a eleição de Prefeito vem sendo colocada com parte integrante da eleição de Governador em 2026.

Com muitos partidos, são os nomes do pleito de Governador que estão fazendo a banda tocar:

E os grandes nomes, que vão puxar o resto, hoje, são: Fátima Bezerra, Álvaro Dias, Ezequiel Ferreira de Souza e Walter Alves.

Mais: Jean Paul Prats, Presidente da Petrobrás (cargo mais importante conquistado por um político do RN na administração federal até aqui); três senadores e oito Deputados Federais. Mais uma meia dúzia de três ou quatro candidatos de si mesmos, embora com potencial de crescimento.

Não esquecer que no meio do caminho ainda tem a campanha municipal que está começando. E que chega as decisões maiores, como acontece por último com Álvaro Dias.

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