DESPEDIDA DE PAPEL
A pioneira em assuntos de informática na imprensa brasileira está dando adeus ao meio impresso.
Depois de 33 anos divulgando inovações tecnológicas, Cora Rónai anuncia que sua coluna muda-se de armas, bagagem e laptops para a blogosfera, mantendo o mesmo endereço, n’O Globo.
No andar das nuvens.
Em muitos países, os tradicionais jornais e revistas resistem. Continuam firmes. Com número crescente de leitores, não mais como no tempo dos nossos filhos. E avós.
A morte anunciada e sempre adiada, modificada, talvez um dia virá para os outros.
Mas nunca será cerebral.
Mesmo que falte papel.
Ou triunfem os ecochatos na guerrilha de preservação das florestas plantadas e bem manejadas da Finlândia.
As informações continuarão a circular. Em indomável intensidade, é impossível que cada participante de grupos nas mídias sociais seja seu próprio filtro e editor.
Alguém tem que fazer o trabalho de cozinha.
Nas redações, preparando o feijão com arroz ou nas plataformas, o infinito cardápio do iFood.
Vale a certeza que o relatado é real. Que opiniões, discussões e análises tenham seus espaços. E o leitor, suas conclusões.
No momento, a fase é de transição. Cada jornal com seu site, cada leitor com sua lista de preferidos.
Depois dos periódicos inodoros, não se sabe de viciados em cheiro da tinta que tenham apresentado síndrome de abstinência.
Se dependência persiste, à espera de explicação pela psicologia, está.
Passar a página, ir direto à coluna de interesse, rasgar a notícia desagradável, recortar e imortalizar o elogio, circular a pechincha do classificado, arquivar notícia ruim (de desafeto).
Quem nunca disso usou, disso nunca vai sentir falta.
As novíssimas gerações não veem a menor graça em gastar tempo e recursos para imprimir o quê pode ser lido nas telinhas.
Livro continua sendo cultura. No Kindle.
Para elas, a notícia não tem limites. Nos tabloides, nos standards e nos germânicos.
Sem essa de deu no NYT.
Deu na internet. Caiu na rede.
Pesquem. É peixe.
E já vem embrulhado a vácuo.
Talvez nem mesmo o presidente acredite no que disse:
Vocês são uma espécie em extinção. Acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama.
Apesar do anúncio de despedidas do jornal-papel, no segundo caderno do quase centenário diário, a criadora do primeiro blog do país continua com uma coluna “de pegar.”
A jornalista que escreve sobre cultura, economia, política, tecnologia, o futuro das comunicações e outras incríveis coisas fantasticamente modernas, no papel, continua.
Hebdomadária.
Se eu não fosse seu cliente fiel, diria que o Dr. Domício errou de profissão, deveria se dedicar exclusivamente às letras. Lembro que são inúmeros os médicos que se dedicaram e se deram bem na arte de escrever: Jouber de Carvalho, Emílio Menezeses, o autor de Baú dos Ossos, Pedro Nava, é tantos outros.