1 de maio de 2024
Comportamento

DEU O MAIOR ESTRESSE CHIC!

The Journey of Humanity (A Viagem da Humanidade) – Sacha Jafri


Há quatro anos, um neologismo procura  um lugar na prosódia potiguara, sem que nenhum  desses filólogos que abundam o estuário do
rio grande (fake) do norte tivesse ousado condená-lo por invasão desnecessária.

Modismo passageiro, não era. Veio pra ficar, misturado aos surpresos oxentes e resignados e apois?

Foi só sair no Fantástico e mesmo quem não assistiu (ou disse que não assistiu) o show da vida, passou a usá-lo.

Com toda certeza.

E não faltam oportunidades.

Alguma situação inesperada e desagradável, sempre acontece.           

É só evolver-se em confusão, que não precisa ter a dimensão de um quiproquó.                                 

Quem sabe, ao contar o último arranca-rabo.

Quando entrou num rabo-de-foguete daqueles.                              

Numa bananosa.

Fria, quase gelada                                       

Serve também  para o caso de ser ludibriado por algum vivaldino.

Cair como um pato, num conto-do-vigário.                          

Em qualquer compra de gato por lebre.

Ou quando for obrigado pelas circunstâncias, a usar uma tremenda de uma saia justa.

Quando descobrir onde foi amarrar o seu jumento.

E a coisa desandar.

Ou ficar naquele puxa-encolhe.

Para não misturar alhos com cebolas, vamos entender que perrengue é esse.

No Brasil, é gíria dicionarizada há mais de um século. Vem do espanhol perro, cachorro, que acabou no  aperrear que tanto usamos, no sentido de supliciar com cães, e na  cepa variante,  soltar os cachorros.

O Houaiss dá também como algo ‘desanimado’. O que convenhamos, data maxima venia do mestre domador das palavras, não cabe bem no caso. Ou seria o antônimo?

E bote animação nisso.

Invasora, como uma frente fria que das terras austrais, entra pelo sul a cima, mas nunca passava de Trancoso.

A palavra que resume toda frustração envergonhada, antes sob segredo, entrou no repertório das músicas sertanejas e não vai deixou de ser compartilhada nas redes sociais dos papa-jerimuns.

Virou coisa chique. O aperreio ostentação, pra se contar a todo mundo

Quanto mais sofisticado o local da ocorrência, melhor.

Se em Paris, então.  Suprême!

Pode ser também num lugar bem longe. Mas longe mesmo. Pra lá dos cafundós-do-judas, depois de Jucurutu.

Qualquer vacilo no calor de  Abu Djabi dá o falecido ibope. Serve Dubai e Doha

Um filminho com enredo estudado, de lacoste, o ator tremendo no  frio do Sognefjorden, não é pra qualquer um.

Comida nunca deixa de explodir os likes.

Por falta de um tradutor muama é que se encara cachorro coreano ao molho pardo.

O grilo do Vietnã  só perde para quem comeu (e fez selfie  achando bom) naquela barraquinha de palha em Angkor.

E depois botou tudo pra fora. Incluídos os bofes.

Vale até postar o cuy peruano. Mesmo quem já encarou muito preá por aí, fica arrepiado. Mas não deixa de curtir.

Mas não tem perrengue maior que contar uma estória e resumir tudo como uma cachorrada.

Só que isso tudo, acaba ficando muito  vulgar.

Peba.

The Journey of Humanity (A Viagem da Humanidade) – Obra do artista britânico Sacha Jafri, considerada a maior pintura em tela do mundo, foi vendida por 62 milhões de dólares em março de 2021, num leilão em Dubai A pintura do tamanho de dois campos de futebol fazia parte do projeto “Humanity Inspired”, iniciado em 2020, de Sacha Jafri, que esperava arrecadar 30 milhões de dólares para apoiar iniciativas de saúde e educação para crianças que vivem na pobreza em todo o mundo.


(Publicado em 23/01/20, o texto foi revisado, atualizado e ampliado. E os perrengues só aumentaram no high society)

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