DEU O MAIOR ESTRESSE CHIC!
Há quatro anos, um neologismo procura um lugar na prosódia potiguara, sem que nenhum desses filólogos que abundam o estuário do rio grande (fake) do norte tivesse ousado condená-lo por invasão desnecessária.
Modismo passageiro, não era. Veio pra ficar, misturado aos surpresos oxentes e resignados e apois?
Foi só sair no Fantástico e mesmo quem não assistiu (ou disse que não assistiu) o show da vida, passou a usá-lo.
Com toda certeza.
E não faltam oportunidades.
Alguma situação inesperada e desagradável, sempre acontece.
É só evolver-se em confusão, que não precisa ter a dimensão de um quiproquó.
Quem sabe, ao contar o último arranca-rabo.
Quando entrou num rabo-de-foguete daqueles.
Numa bananosa.
Fria, quase gelada
Serve também para o caso de ser ludibriado por algum vivaldino.
Cair como um pato, num conto-do-vigário.
Em qualquer compra de gato por lebre.
Ou quando for obrigado pelas circunstâncias, a usar uma tremenda de uma saia justa.
Quando descobrir onde foi amarrar o seu jumento.
E a coisa desandar.
Ou ficar naquele puxa-encolhe.
Para não misturar alhos com cebolas, vamos entender que perrengue é esse.
No Brasil, é gíria dicionarizada há mais de um século. Vem do espanhol perro, cachorro, que acabou no aperrear que tanto usamos, no sentido de supliciar com cães, e na cepa variante, soltar os cachorros.
O Houaiss dá também como algo ‘desanimado’. O que convenhamos, data maxima venia do mestre domador das palavras, não cabe bem no caso. Ou seria o antônimo?
E bote animação nisso.
Invasora, como uma frente fria que das terras austrais, entra pelo sul a cima, mas nunca passava de Trancoso.
A palavra que resume toda frustração envergonhada, antes sob segredo, entrou no repertório das músicas sertanejas e não vai deixou de ser compartilhada nas redes sociais dos papa-jerimuns.
Virou coisa chique. O aperreio ostentação, pra se contar a todo mundo
Quanto mais sofisticado o local da ocorrência, melhor.
Se em Paris, então. Suprême!
Pode ser também num lugar bem longe. Mas longe mesmo. Pra lá dos cafundós-do-judas, depois de Jucurutu.
Qualquer vacilo no calor de Abu Djabi dá o falecido ibope. Serve Dubai e Doha
Um filminho com enredo estudado, de lacoste, o ator tremendo no frio do Sognefjorden, não é pra qualquer um.
Comida nunca deixa de explodir os likes.
Por falta de um tradutor muama é que se encara cachorro coreano ao molho pardo.
O grilo do Vietnã só perde para quem comeu (e fez selfie achando bom) naquela barraquinha de palha em Angkor.
E depois botou tudo pra fora. Incluídos os bofes.
Vale até postar o cuy peruano. Mesmo quem já encarou muito preá por aí, fica arrepiado. Mas não deixa de curtir.
Mas não tem perrengue maior que contar uma estória e resumir tudo como uma cachorrada.
Só que isso tudo, acaba ficando muito vulgar.
Peba.
(Publicado em 23/01/20, o texto foi revisado, atualizado e ampliado. E os perrengues só aumentaram no high society)