12 de maio de 2024
Opinião

Direita-esquerda – quadro confuso na nossa política

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 09/11/22

Os números do presidente Bolsonaro no RN, na última eleição (maioria de Lula: 615.404 votos), não refletem a verdade do desempenho da direita potiguar expressa nas mesmas urnas. Afinal, esse grupo elegeu um Senador, a maioria dos Deputados Federais e dos Deputados Estaduais.

A primeira constatação é que Lula recebeu mais votos do que a esquerda potiguar possui, quando obteve alguma coisa como dois terços dos votos do eleitorado do Rio Grande do Norte.

Essa simples leitura mostra a dificuldade para se tentar falar de um bolsonarismo, por aqui; o que não significa negar a existência de um grupo muito menor fanatizado e mobilizado em seu nome, como aquele que tentou bloquear estradas e ocupa algumas ruas das maiores cidades, num tipo de operação que ninguém consegue realizar sem mobilizar grande soma de recursos.

No cenário atual não se pode negar que a Copa do Mundo já começou para nós brasileiros, desde segunda-feira, com a divulgação da lista de jogadores convocados pelo treinador Tite para a seleção brasileira que vai disputar – o tão sonhado hexa campeonato – na Copa do Katar, a primeira fora da época do verão europeu.

DIREITA SEM BOLSONARO

Em termos nacionais, na última eleição, a direita praticamente recebeu a metade dos votos com Bolsonaro e a maioria dos votos para os cargos do legislativo. É uma força eleitoralmente respeitável.

A grande dúvida é saber se o bolsonarismo veio para ficar, se esse contingente consegue se organizar para atuar de maneira uniforme, harmônica e com objetivo definido.

Os principais líderes da direita potiguar – o Prefeito de Natal, Álvaro Dias, e o senador Rogério Marinho – tem tido uma posição política irreparável depois da eleição, não se conhecendo uma atitude dúbia da parte dos dois, o que não pode ainda ser lido como uma filiação de ambos ao bolsonarismo.

A má informação daqui para o bolsonarismo, parte de um dos eleitos mais ligados a Bolsonaro, por ser pai do ministro Fábio Fária (que escapou, por pouco, de ser demitido depois de uma desastrada entrevista quando tentou bisonhamente tumultuar a eleição, entrevista que ele próprio se disse arrependido). O deputado Robinson Faria teve anunciada a sua mudança de Partido para o PSD de Kassab e não desmentiu; mas tem dito as suas bases que não pretende aportar no Governo Lula.

DIREITA VOLVER

O sucesso eleitoral da frente ampla que elegeu Lula e derrotou Bolsonaro nas eleições para presidente pode sofrer engasgos, o que não é suficiente para desmentir a guinada do Brasil para a direita (centro-direita). Um movimento que surgiu na definição de temas que sensibilizaram o eleitorado ao longo da campanha e terminou se confirmando na eleição para o Congresso nas urnas do dia 2 de outubro.

Os 58 milhões de votos recebidos por Bolsonaro, praticamente a metade de todo o universo brasileiro, reforçam a existência deste cenário, que – por enquanto – prece empurrar o governo Lula, segundo alguns acreditados analistas, mais para o centro.

Isso indica que o presidente eleito parece convencido de que terá de negociar com o Legislativo e estabelecer um diálogo aberto com a sociedade organizada. Em Brasília o governo vai precisar dialogar com os ocupantes de 63% da Câmara dos Deputados. Num tipo de situação que nunca havia acontecido depois da redemocratização.

COLHEITA DIREITISTA

O Senado, que foi um calo incômodo para Bolsonaro, o estimulou a lançar (e eleger) nomes com total identidade ao seu nome além dos que concorreram pelo PL, nomes como Damares Alves (DF) e o ex-juiz Sergio Moro (Pr), reforçando a sua bancada, como a maior da Alta Câmara, ali chegando com a bandeira bolsonarista nas mãos..

Uma dificuldade operacional para esse sistema de forças da direita é a sua heterogeneidade, cabendo numa mesma bancada desde liberais até extremistas.

Estudos acadêmicos indicam que a esquerda elegeu agora a sua menor bancada desde 2002, com destaque para o fraco desempenho de legendas como MDB e PSDB.

Um estudioso de prestígio não define o bolsonarismo como um partido, mas um movimento descentralizado, coordenado pelas redes sociais, aparentemente integrando um projeto oriundo da extrema direita mundial, articulado para transformar tudo em motivo de guerra ideológica. Mas, a direita brasileira, ao longo dos anos, tem sido muito mais pragmática e menos ideológica.

ESQUERDA PAPA-JERIMUM

E a direita do nosso Rio Grande do Norte como fica num segundo governo de esquerda?

– Torcendo para que seja como no foi no primeiro Governo, que termina sem receber reclamações de sua ação política, em nenhum daqueles pontos – infundados – agora alegados que possam vir a acontecer no próximo governo Lula.

Pelo contrário, Fátima derrotou Carlos Eduardo no segundo turno, porque convenceu um bom número de Prefeitos (teoricamente de direita) a votarem nela, e foram todos recompensados.

Situação semelhante a grande maioria dos deputados estaduais que recebem tratamento equânime aos deputados do governo, e retribuem não fazendo oposição ao Governo Fátima que, desta forma, terminou ganhando a eleição por WO, como acontece no esporte, quando falta um adversário.

Alguns conquistadores de mandato esse ano, não se pronunciaram, mas tem dito que Fátima não terá refresco (pelo menos deles). Mas, esse jogo ainda vai começar…

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