8 de maio de 2024
BBB

DOIS MIL E VINTE E TRÊS

A lâmpada que tudo vê, detalhe do mural Guernica (1937) – Pablo Picasso – Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri


Um dos 50 personagens de ficção mais influentes da literatura mundial completa vinte e três anos na televisão brasileira, emprestando seu nome a um
reality show.

Com um toque tropical, permanece a versão brasileira, o que não acontece mais em  vários países, onde o público já enjoou do tempero pasteurizado há muito tempo.

Transplantado do romance 1984 de George Orwell, publicado quatro anos após o término da segunda grande guerra, o conceito que o Grande Irmão está te vendo, mudou para todo mundo está vendo o Big Brother.  

E todos, incluídos os que nunca assistiram o programa, agora são os inquilinos da sofisticada casa, a mansão mais vigiada do país.

O alerta, depois dos anos de chumbo, bombas, sangue, suor e lágrimas, para os perigos do stalinismo como sucessor do regime nazista, vira diversão, passatempo, entretenimento e, por ironia, ditador de moda.

Um estado que premiava quem pensasse diferente, com prisão e tortura e mantinha estrito controle e vigilância total sobre todos os seus habitantes.

Um programa que distingue quem elimina mais pessoas do convívio confinado, com grana bastante para a liberdade financeira.

Desafios, tarefas a cumprir, tramas, armadilhas e opotunidades para relacionamentos interpessoais mais íntimos, é o que espera o irrespeitável público.

Winston, no BB original, é o símbolo dos valores civilizados que enfrenta o desafio de preservá-los das ameaças do estado totalitário.

A Liga Anti-Sexo,  a mais flagrante  manifestação do controle estatal da vida dos cidadãos, foi a primeira a ser esquecida.

Para ser lembrada pelo avesso do avesso e antítese,  no liberalismo  do século XXI, na gandaia.                                

A audiência minguante, refletida nos piores índices para  uma estréia, só tem uma explicação: a concorrência.

O Grande Xandão está observando você …

A Família de Saltimbancos (1905) – Pablo Picasso – Galeria Nacional de Arte, Washington

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