DOIS MIL E VINTE E TRÊS
Um dos 50 personagens de ficção mais influentes da literatura mundial completa vinte e três anos na televisão brasileira, emprestando seu nome a um reality show.
Com um toque tropical, permanece a versão brasileira, o que não acontece mais em vários países, onde o público já enjoou do tempero pasteurizado há muito tempo.
Transplantado do romance 1984 de George Orwell, publicado quatro anos após o término da segunda grande guerra, o conceito que o Grande Irmão está te vendo, mudou para todo mundo está vendo o Big Brother.
E todos, incluídos os que nunca assistiram o programa, agora são os inquilinos da sofisticada casa, a mansão mais vigiada do país.
O alerta, depois dos anos de chumbo, bombas, sangue, suor e lágrimas, para os perigos do stalinismo como sucessor do regime nazista, vira diversão, passatempo, entretenimento e, por ironia, ditador de moda.
Um estado que premiava quem pensasse diferente, com prisão e tortura e mantinha estrito controle e vigilância total sobre todos os seus habitantes.
Um programa que distingue quem elimina mais pessoas do convívio confinado, com grana bastante para a liberdade financeira.
Desafios, tarefas a cumprir, tramas, armadilhas e opotunidades para relacionamentos interpessoais mais íntimos, é o que espera o irrespeitável público.
Winston, no BB original, é o símbolo dos valores civilizados que enfrenta o desafio de preservá-los das ameaças do estado totalitário.
A Liga Anti-Sexo, a mais flagrante manifestação do controle estatal da vida dos cidadãos, foi a primeira a ser esquecida.
Para ser lembrada pelo avesso do avesso e antítese, no liberalismo do século XXI, na gandaia.
A audiência minguante, refletida nos piores índices para uma estréia, só tem uma explicação: a concorrência.
O Grande Xandão está observando você …