DUBLÊ DE TARZAN
O Curso para Autodidatas Aprendizes de Cronistas do Cotidiano ainda não voltou ao velho normal, presencial, em carne e osso, mesmo com o amansamento da pandemia.
A falta de preceptoria faz exercício diário, uma peregrinação pelo labirintos das redes sociais, em busca de assuntos aleatórios que tenham, pelo menos, duas características essenciais.
Ser do interesse do rabiscador, e que possa chamar e prender a atenção do respeitável público leitor, cativo, e o ainda por conquistar.
A faina fica bem mais suave quando algum amigo sugere estórias que não devem ficar em lockdown na memória, mesmo uma contada há três anos
Depois do inesquecível Cine Éden, o Cinema Paradiso do Agreste, o conterrâneo saudoso dos idos que nunca mais terão reprise, lembra de outro episódio que comprova a originalidade do seu proprietário e personagem principal.
Operando com velhas máquinas de projeção, convivendo com frequentes atrasos no recebimentos dos filmes, e obrigado a muitas repetições, o megaempresário do circuito curimataú-bujari apostou todas as fichas na exibição do mais recente filme de Tarzan.
O filho das selvas era certeza de sucesso e casa cheia.
Com muita antecedência, cartazes criavam a expectativa para a fita com o mais fortão de todos os atores que já haviam representado o papel.
Mas, num ponto fraco não tinha quem desse jeito.
Era estrutural, a precária qualidade do som (ou do barulho) do politeama.
Como ninguém ligava muito para os diálogos em inglês, as legendas garantiam a compreensão do enredo. E as emoções.
Na estreia, o grito do herói ao pular de um cipó para outro, fraco e distorcido, foi recebido com vaias, assobios e impropérios.
Aquele detalhe era a maior ameaça à estratégia de recuperação da bilheteria.
Nada que uma solução com a grife Paulo Bezerra não resolvesse.
Um rapaz de voz possante, por trás da tela, na hora precisa, ao vivo e em preto e branco, resolveu o problema acústico, com o grito do urro mais conhecido da sétima arte.
Sob merecidos e entusiasmados aplausos.
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Uma série de cartuns criados por Ziraldo, publicados inicialmente na revista Fatos & Fotos, na década de 60, foi reunida no livro Os Zeróis, em 2012, pela Editora Globo Livros Graphics