EFEITOS COLATERAIS
Jogadores de Futebol (1908) – Henri Rousseau– Museu Guggenheim, Nova Iorque
O que seria da ciência farmacêutica se não houvesse em suas pesquisas, resultados não esperados.
A começar pelo bolor do Sir Alexander Fleming, o acidente que virou o maior case da indústria de medicamentos.
Sem o imponderável, o remédio mais usado no mundo, depois do AAS, continuaria mais um anti-hipertensivo e a geração de velhinhos, sem o milagre azul.
Apesar da pandemia ter produzido efeitos colaterais benéficos, a humanidade perdeu a chance de mudar completamente os esportes e a maneira de assistí-los.
O futebol sem plateia pode até ter diminuído em entusiasmo, mas acabaram muitos desperdícios.
Ingressos eletrônicos mais baratos, o trânsito menos infernal, vagas de estacionamento multiplicadas, e a erradicação total das torcidas organizadas briguentas, sem contar com eventuais encrencas com as patroas.
Isso se não for lembrado o superfaturamento na construção dos estádios.
Tudo poderia estar diferente se estivéssemos vivenciando, na plenitude, o futebol novo normal.
A começar pela retirada das engenhocas eletrônicas que ocupam telas de TV e aceiros dos gramados, e foi o pontapé inicial das mudanças que mexeram com todo o mundo e nem Deus poupou.
Com ele, não estaríamos recordando um dos gols mais famosos do futebol.
Quando usou Dieguito como cavalo para marcar o tento inesquecível da Copa de 86, Dios fez de mão.
Se quisesse diferente, teria soprado nas bochechas do apitador.
Afinal, Ele está em todos os campos, a tudo vê e seu apito nunca falha.
A tecnologia, seus arbitrários operadores e a própria FIFA só ficam devendo uma explicação.
Como se faz para descomemorar um pênalti ou gol marcados?
E mandar de volta pra dentro dos pulmões, o grito de alegria, ou o impropério da revolta.
A quem interessa acabar com os juízes-ladrões e suas queridas genitoras?
Agora, depois do silvo, o filho da mãe, pode simplesmente botar a mão na orelha, falar com seus parças e voltar atrás.
E como se um FHC fosse, mandar esquecer tudo que apitou.
Na pós-pandemia, foi perdida a última esperança para salvar o esporte-rei e a alegria dos brasileiros.
O futebol sem revisão de arbitragem.
Entre tantas caneladas, uma só canetada da Bic presidencial e todos os nossos problemas esportivos teriam sido resolvidos, à moda tabajara.
Bastavam um decreto-lei e duas twitadas.
Curtos e na linguagem franca de quem se achava ungido por quem goleou pelos argentinos e está acima de todos, até da CBF:
– VAR PRA PQP.
(Publicação original em 17/06/2019)