ELES ME REPRESENTAM

Intermináveis seis horas após o fim da votação, quando saiu a relação dos vereadores eleitos, a constatação que muitos eram desconhecidos.

Inevitáveis comparações quando os edis tinham notável saber jurídico e eram figurinhas conhecidas do noticiário político e crônica social.

Incontáveis comentários sobre a falta de representatividade.

Dos caras-pálidas.

Imperdoáveis preconceitos contra quem vem trazendo para a casa de debates da cidade que vira metrópole, o pensar dos mais variados segmentos da sociedade.

Irreconhecida, uma das poucas virtudes do nosso pluripartidarismo. Oportunidade a quem quiser entrar na política.

Não faz muito tempo, nossos periódicos reservavam para as edições que se seguiam às convenções partidárias, amplos espaços  para as lamúrias dos excluídos.

Eram muitos os excedentes das nominatas.

Pessoas que os caciques dos partidos não viam capazes de angariar votos ou atrapalhavam nos redutos dos aboletados no poder.

A multiplicação dos partidos, alguns deles sem feitores, tem dado chance a quem quiser gastar saliva e sola de sapato na transformação da amizade e de trabalho voluntário em votos.

Nem a promoção dos velhos cabos eleitorais em lideranças, nem as eleições de conselheiros tutelares e comunitários, foram suficientes para evitar que perto de mil natalenses desejassem disputar uma das 29 cadeiras no parlamento municipal.

As urnas, sob ataques de hackers,  mostraram as peças que arrumadas em mosaico, formarão o chão por onde os cidadãos vão caminhar nos próximos quatro anos.

Com renovação da metade de sua composição, nos novatos estreantes, vislumbram-se as marcas da mudança.

Não há notícia recente da falta em plenário, de representantes de algumas profissões puxadoras de votos.

Nenhum médico. Nenhum dentista.

Sem locutores de rádio. Sem comunicadores sociais.

Ausentes, os epítetos que revelavam as ocupações dos zés-da-padaria ou a origem das fafás-de-igapó.

Uma bancada desprovida dos militares que desta vez, buscaram patentes mais altas.

Na última vaga, um professor universitário em vez da professorinha primária de primeiríssimo lugar.

Carnaúba dos Dantas chegou na frente.

Não será nesta legislatura que  a casa das sete mulheres vai abrigar pessoas transgêneras.

O perfil é jovem e conservador.

As novidades que se anunciam alhures, dos mandatos coletivos, ficarão para as próximas.

Com a não renovação dos mais extremados, desenha-se um grupo mais centrado.

Sem destemperos, despautérios ou sopapos.

Imutável, a tranquila maioria  que sempre se reelege da bancada do prefeito da vez.

A quem se queixar, continua, o bispo.

De sanfona afinada.