ENCONTRO COM OS AUSENTES
Silenciosa e solitária, a caminhada não é mais a mesma de antes dos dias de medo e incertezas.
O longo período do parque fechado, mudou hábitos.
O novo horário de abertura dos portões acostumou o encontro dos amigos do lado de fora, na estreita faixa reservada e respeitada pelos poucos automóveis que passam em baixa velocidade.
O reencontro com as pistas quase vazias, trouxe lembranças de quem há muito não se tinha notícias.
Muito antes da pandemia, o distanciamento definitivo, para sempre, já havia acontecido
São muitos os que deixaram o convívio, mesmo que pequeno, em movimento, rápido, de poucas palavras. De perguntas e respostas automáticas, nos cumprimentos formais, das boas maneiras.
Logo na entrada, nas barras para o aquecimento, o exemplo da boa forma física do comerciante de sortida bodega, atribuída à alimentação regrada.
Medida em anos sem consumo de carnes, leite e tudo o mais proibido pelo instituto do açúcar e do álcool.
Generoso em receitas para quem quiser seguir dieta alternativa, desde que goste de tofu e o que possa ser feito à base de soja.
Se a conversa se estender por mais alguns passos, o orgulho com os estudos e as carreiras dos filhos, aparecerá sem disfarces.
Notícias dos lugares distantes onde estiveram ou ainda vão buscar mais ciência e conhecimento. E as estórias de pescador em Caiçara do Norte.
O gramado sem a aguação que completava o trabalho do orvalho, é o lugar de se deparar com a protetora dos gatos de rua e dona de todos eles. Hora para contar-lhe que na sua ausência, a alimentação dos bichanos foi assumida por outras almas caridosas e que seus filhos estão bonitos como costumava elogiá-los, chamando cada um pelo nome carinhoso que dera de batismo.
Mais à frente o dublê de corretor de imóveis e vocacionado para político de interior. Previsões otimistas da retomada dos negócios e o valor exato da última transação do último terreno vendido para um grande investidor de fora.
Que bom ouvir de novo as estratégias do grupo que apoia para ganhar a prefeitura de Barcelona e os motivos de não ter aceito compor a chapa como vice do favorito.
A pulha chega antes do bom-dia, no duplo sentido, facilmente decifrado. Sem resposta, sem saída honrosa. Xeque-mate resolvido com risadas.
A mesma alegria nas vitórias do time que sabia escalar melhor que o treineiro.
Abecista que era, por nunca ter torcido pelo ABCD.
O bosque sente a falta de cada um dos amigos que não mais aparecem por lá.
Que todos estejam em outro bom lugar.
E tenham encontrado a mesma paz. E amizades que a mais ingrata distância não consegue acabar.
Saudades de Luiz, Suzete, Jatécio, Vivi.
Linda crônica