ESTÓRIA DE UMA VELHA GUERRA
Houve um tempo em que os doentes eram pacientes, por nome comum e comportamento.
Na transição da pandemia para endemia, voltam as batalhas para a conquista de sua majestade, o cliente.
A guerra, é a mesma, acrescida das armas que mostram desempenho nas redes sociais, comandada por jovens e destemidos combatentes que explodem conhecimentos em promessas de resultados fantásticos e miraculosos .
Com a volta das tropas do recolhimento, para os embates do dia-a-dia, as linhas de frente da antiga luta foram retomadas.
Aos bravos infantes, não custa recordar como eram traçadas estratégias nas trincheiras analógicas.
Na essência, nada mudou nas atividades que sempre conviveram com ciúme e competição.
Não há como ser diferente na Medicina, a campeoníssima categoria profissional no quesito olho gordo.
No ambiente hipocrático, sempre ardeu a fogueira das vaidades, apesar das frustrações e sentimentos de impotência, inerentes ao ofício.
O episódio ocorrido na sala dos médicos, lugar onde os guerreiros-cirurgiões repousam e aproveitam para botar todo tipo de assunto em dia, é exemplar, no lamento de um colega.
Trabalhando duro há muito tempo, já sonhando com a aposentadoria, o doublê de obstetra e cirurgião-quase-geral, havia angariado razoável clientela, com pacientes, basicamente da capital e arredores. Raros vindos do Seridó, menos, do Oeste.
A reclamação, em tom de inveja, era que um colega muito mais novo, estava operando naquele momento um paciente vindo do exterior. Coisa que nunca havia acontecido com ele.
Espantado como a fama do invejado havia chegado tão longe, até ao estrangeiro, perguntou se alguém sabia onde ficava localizado o Sudão.
A explicação não tardou a aparecer, no intervalo, entre uma amigdalectomia e outra.
Naquela época, o Sistema Único de Saúde, SUS, era também Descentralizado.
O recém-operado havia internado pelo SUDS, jocosamente apelidado pelo otorrino brincalhão, pelo aumentativo da sigla, homófono do país do norte da África.
(Este episódio foi contado neste espaço psicanalítico, em 16/04/2019)
O “aprendiz” já virou cronista de vera. Está dando show, provando que o Brasil sempre teve muitos escritores médicos que não passam vergonha quando escrevem. Parabéns para o meu urologista que me trata como se fosse um irmão. Que Deus continue cuidando de sua saúde por muitos anos. Forte abraço.