4 de maio de 2024
Imprensa Nacional

Ex-chefe da Comunicação esqueceu o “é simples assim: um manda e o outro obedece”

Matéria principal da Veja que chega às bancas neste final de semana.

O publicitário Fabio Wajngarten, que conheceu Jair Bolsonaro em 2016, num jantar na casa de Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa, em São Paulo, lembra que é aliado de primeira hora e, portanto, viveu muita coisa de perto do … improvável presidenciável que chegou lá.

Em 2019, assumiu o comando da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). O cargo estratégico, combinado com a sólida relação de confiança construída com o presidente, franqueou a Wajngarten trânsito livre em alguns dos gabinetes mais inacessíveis do Palácio do Planalto — aqueles onde se desenrolam histórias que raramente chegam ao conhecimento do grande público.

Depois de quase dois anos, Wajngarten deixou a Secom, no mês passado, no ápice da crise sanitária que já matou mais de 380 000 brasileiros.

Oficialmente, sua demissão foi atribuída à necessidade de reconstruir a relação desgastada do presidente com a imprensa. Mas esse não foi o motivo principal. Durante meses, o ex-secretário travou um intenso duelo com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Wajngarten apontava o general e a equipe dele como responsáveis diretos pelo atraso da vacinação contra a Covid-19.

INCOMPETÊNCIA PARA COMPRAR VACINAS E CULPA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE 

E por que as negociações não avançaram?
As negociações avançaram muito. Os diretores da Pfizer foram impecáveis. Se comprometeram a antecipar entregas, aumentar os volumes e toparam até mesmo reduzir o preço da unidade, que ficaria abaixo dos 10 dólares. Só para se ter uma ideia, Israel pagou 30 dólares para receber as vacinas primeiro. Nada é mais caro do que uma vida. Infelizmente, as coisas travavam no Ministério da Saúde.
Travavam por quê?
Existiam as três famosas cláusulas leoninas do contrato. A primeira delas, o foro para a solução de conflitos. A Pfizer queria uma câmara arbitral de Nova York. A segunda era a isenção de responsabilização e indenização. E a terceira era a edição de uma medida provisória em que o Brasil garantisse com ativos potenciais danos financeiros. Essas foram as cláusulas que dificultaram a negociação no ano passado. Houve várias reuniões para discutir e tentar superar esses obstáculos. Cheguei a convidar o Filipe Martins, assessor internacional do Planalto, para participar de uma dessas reuniões com os diretores da empresa, ouvir as coisas que eram ditas, as dificuldades que eles relatavam. Havia excesso de burocracia e pessoas despreparadas cuidando dessa questão.
O senhor está se referindo ao ministro Eduardo Pazuello?
Nunca troquei mais do que um boa-tarde com o ministro. Seria leviano da minha parte falar dele. E o que o presidente dizia sobre essas negociações? O presidente sempre disse que compraria todas as vacinas, desde que aprovadas pela Anvisa. Aliás, quando liguei para o CEO da Pfizer, eu estava no gabinete do presidente. Estávamos nós dois e o ministro Paulo Guedes, que conversou com o dirigente. Foi o primeiro contato entre a Pfizer e o alto escalão do governo. Guedes ouviu os argumentos da empresa e, depois, disse que “esse era o caminho”. Se o contrato com a Pfizer tivesse sido assinado em setembro, outubro, as primeiras doses da vacina teriam chegado no fim do ano passado. Volto a insistir: se o presidente autorizou, seus principais auxiliares concordaram e o acordo não aconteceu, o que explica isso? Incompetência e ineficiência. Quando você tem um laboratório americano com cinco escritórios de advocacia apoiando uma negociação que envolve cifras milionárias e do outro lado um time pequeno, tímido, sem experiência, é isso que acontece.
Não caberia ao presidente da República ter conduzido esse processo?
O presidente Bolsonaro está totalmente eximido de qualquer responsabilidade nesse sentido. Se as coisas não aconteceram, não foi por culpa do Planalto. Ele era abastecido com informações erradas, não sei se por dolo, incompetência ou as duas coisas. Diziam que a pandemia estava em declínio e que o número de mortes diminuiria muito até o fim do ano.
É fato que o governo temia que a Justiça decretasse a prisão de Pazuello?
Ouvi que havia essa possibilidade. Não sei se era fato ou especulação. Isso foi em fevereiro, dias antes da demissão do ministro da Saúde.
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A tese abraçada pelo publicitário parece um embrião de defesa que pode chegar na CPI da Covid que hoje se desenha. A gestação de um bode expiatório para eximir o  presidente Bolsonaro de qualquer culpa e/ou responsabilidade.

A estratégia só esquece algo que a própria Comunicação do Governo vazou em 22 de outubro de 2020, no auge desse impasse para compra das tais vacinas.

QUEM MANDA E QUEM OBEDECE

O  então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou  em uma transmissão ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro que “é simples assim: um manda e o outro obedece”

Na ocasião, o presidente desautorizou o ministro, ao mandar cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, anunciado no dia anterior por Pazuello em uma reunião com governadores.

2 thoughts on “Ex-chefe da Comunicação esqueceu o “é simples assim: um manda e o outro obedece”

  • observanatal

    Wajngarten não perde a oportunidade ser mais um babão. Quem escolheu os inexperientes, sem credibilidade, foi o mesmo cara que escolheu Wajngarten: Bolsonaro.
    Uma conversa fiada para garantir estar bem no entorno do presidente.

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  • PedroArtur

    O tal do Bolsonaro e maguiavelico mesmo, ja preparando o terreno para entregar mais uma cabeça e sair ileso .

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