2 de maio de 2024
Comportamento

EXAGEROS À PARTE

Autorretrato ou Le manteau rouge (1928) – Tarsila do Amaral – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro


Há três anos, antes que a pandemia ocupasse todos os espaços, o noticiário tinha fôlego para trazer estórias de pessoas sem limites.

No interior de Goiás, um golpe de vivaldinos começou com a falsificação de remédios para emagrecer.

Até fugir do controle.

A voracidade da clientela ajudou.

Tanta procura que o jeito foi usar uma britadeira para misturar as substâncias.

Até na logística para a distribuição do produto, a falta de escala.

E medida.

Uma Ferrari no lugar de furgão.

No oeste da Bahia, um auto-intitulado e improvável cônsul, ganhava nos tribunais, o direto à propriedade de mais de 250 mil hectares de terras.

Ocupadas e produtivas.

O golpe começou pequeno, com questões de fundo de quintal.

Sem freios,  foi dando certo e envolvendo cada vez mais gente. Graúda.

Até o ponto que não deu mais para continuar.

Nem parar.

Nem explicar.

Réu confesso em esquema de propinas, o ex-governador carioca – agora, prestes a ser transferido para uma cela em condomínio de luxo no Alto Leblon – confidenciou a um amigo que seu maior erro foi a falta de limite.

Não mostrou arrependimento pelo que fez, só pelo quanto fez.

Perdeu o timing do breque.

Chegou ao  ponto de ter  juntado tanto dinheiro que sua preocupação passou a ser  como guardar tanta grana. Em espécie.

Sabia que não teria  como gastar tamanha fortuna numa única vida.

Passou a ser movido por um incontrolável desejo de ter mais.

E a perder o sono com a preocupação que papel-moeda também mofa.

Exagero não é  produto exclusivo da ambição.

O amor também solta as rédeas.

Um mecânico de Porto Velho ganhou seus 15 minutos de fama e viralizou nas redes sociais, pelo presente de Natal que escolheu para a mãe.

Ao invés de dar um treinamento intensivo à genitora, reincidente reprovada em testes de direção, ultrapassou pela direita e entrou na contramão.

A toda velocidade.

Travestido de senhora respeitável, rosto depilado com torturante cera quente, peruca grisalha, maquiado e até de unhas pintadas.

De carmim.

Tentou se passar pela mãe cangueira.

Na prova de volante, foi descoberto antes de engatar a terceira marcha.

Acabou em audiência de custódia.

Comedida no futebol apresentado, a seleção deixa para os futuros álbuns de figurinhas, cenas exuberantes de dancinhas, modelitos, cortes de cabelo, relógios de 3 milhões e bifes banhados a ouro.

Faltou um técnico que não exagerasse na empáfia.

Abaporu (1928) – Tarsila do Amaral – Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (MALBA) *** Avaliado em 40 milhões de dólares, é o mais valioso quadro de artista brasileiro

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