9 de maio de 2024
Imprensa Nacional

Fake News (sem intermediários) para o mundo ver

Por Ricardo Kotscho

Foi uma reprise daquela patética live de julho de 2021, quando Bolsonaro, acompanhado de um coronel “especialista em informática”, anunciou que iria apresentar provas de fraudes nas urnas eletrônicas, que teriam impedido sua eleição já no primeiro turno de 2018, segundo as conclusões de um misterioso inquérito da Polícia Federal, que não foi concluído até hoje. Tudo não passou de uma grande farsa, mas ficou só entre nós.

Desta vez, o vexame foi ainda maior, para o mundo todo ver: diante de uma plateia formada por embaixadores de dezenas de países, Bolsonaro passou o tempo todo só atacando o Tribunal Superior Eleitoral, fazendo-se de vítima de uma grande conspiração para derrotá-lo na eleição deste ano. E, mais uma vez, não apresentou prova nenhuma .

Logo no início da apresentação, no Palácio da Alvorada, enquanto não começava a falar, um telão exibia imagens da campanha eleitoral de 2022, com Bolsonaro nos palanques e carregado nos ombros de seguranças, circulando entre seus fanáticos apoiadores. Parecia a abertura de mais um programa partidário, fora de hora e de lugar.

Depois de repetir várias vezes que era o comandante supremo das Forças Armadas, o presidente apresentou no telão apenas declarações de ministros do TSE noticiadas pela imprensa, para “provar” que está sendo perseguido pela Justiça Eleitoral, e nada de provas.

Remexendo a toda hora em papeis sobre o púlpito, parecia procurar a bala de prata que a qualquer momento detonaria o sistema eleitoral brasileiro, mas passou quase uma hora falando do tal inquérito da PF sobre um suposto ataque hacker aos computadores do TSE, que teria alterado os resultados na eleição passada, ao “tirar voto de um e mandar para o outro”.

Esta versão delirante já foi desmentida dezenas de vezes pelos ministros e técnicos do tribunal, como já deviam estar cansados de saber os embaixadores presentes, que pareciam não acreditar na pantomima encenada pelo presidente. Segundo Bolsonaro, “os hackers ficaram por oito meses dentro do computador”.

Que maravilha! Fiquei imaginando a cena, querendo saber como eles faziam para comer e dormir confinados durante tanto tempo.

“Por que um grupo de apenas três pessoas (os sempre citados ministros Fachin, Barroso e Moraes) quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas?”, perguntou o presidente à incrédula plateia. “As Forças Armadas, das quais sou comandante supremo… ninguém mais do que nós quer estabilidade em nosso país”.

Se já não estavam entendendo o motivo do inusitado encontro com o presidente, os embaixadores saíram do Alvorada ainda mais confusos, sem saber aonde Bolsonaro quer chegar com suas “denúncias” contra o processo eleitoral e as urnas eletrônicas.

Caso se confirme sua derrota em outubro, como indicam todas as pesquisas, Bolsonaro poderá convocar uma nova reunião com os diplomatas, só para avisar:

“Não falei pra vocês aquele dia? Já sabia que minha eleição seria roubada… Eu não queria, mas agora vou ser obrigado a dar um golpe dentro das quatro linhas”.

Em casos graves assim, só uma boa camisa de força poderia dar um jeito. Ou o Brasil continuará passando essa vergonha planetária.

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