1 de maio de 2024
Coronavírus

FASES DA NOVA VIDA

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Não fosse a possibilidade da sua chegada antecipada, não estaríamos engaiolados.

Pode ser que um ou outro afirme que o enjaulamento tenha razões altruísticas.

Proteger o próximo.

A coletividade.

Pessoas que nem se conhece.

É o medo que nos imove.

Do desconhecido, de acontecer comigo, do sofrimento que possa vir.

A psicologia haverá depois de adaptar as fases que passam os pacientes que recebem um diagnóstico desfavorável, os de remotas chances de cura.

O modelo foi organizado pela psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross, em 1969, e divulgado em livro que virou best seller.

Adaptado para o tratamento do câncer e outras  doenças sombrias, o conceito passou a ser conhecido como os Cinco Estágios do Luto.

O que já foi observado individualmente em todo o mundo, em todas as culturas, agora pode ser comprovado que vale também para a pandemia global.

As diferenças ficam por conta das etapas da contaminação, como se tivéssemos um fuso pandêmico, com meridiano, não mais em Greenwich  mas em Wuhan.

Quando surgiu o primeiro alerta, a negação.

Notícia de caixa baixa, em canto de jornal.

Mais uma virose comum de inverno.

Eles que são chineses que resolvam por lá.

A raiva só apareceu depois que as negativas foram repetidas em relação à Europa e ao oceano que nos separa.

Inveja transformada em culpa de quem foi passar carnaval em Veneza.

Ódio dos que fizeram cruzeiros marítimos pela costa almafitana.

Ira de quem não guardou o mal só para si.

Na hora do enfrentamento, instalado o pavor, negociação e barganha.

Pode chegar que será recebido.

Com cardápio variado: Cloroquina, Ivermectina, Azitromicina.

Providenciada hospedagem decente.

Não faltarão recursos.

À disposição da enorme comitiva, todos os hospitais, suítes, as instalações mais bem equipadas. E se não der para acomodar a todos, hotéis falidos serão recuperados e até construídos outros, de lona, inspirados nas tendas yurts da Mongólia.

Na estratégia para empalhar o avanço da invasão inevitável, o dolce far niente, como tudo em excesso, azeda. Vira depressão.

O dia todo, ouvindo e vendo notícias ruins. Impedidos de encontrar amigos e parentes. Sem poder praticar o esporte predileto, a ostentação social, só resta comer e beber.

Sem tinta, aparecem os cabelos brancos. Sem malhação, os outros buchos antes reprimidos  pelos ferros frios das academias.

A aceitação, a última fase, quando observada no coletivo, ganha novas vestes.

Não é mais prenúncio do fim. É recomeço.

Não é mais resignação. É esperança.

Aceitar que pior era como estava.

O planeta rumo à destruição .

Pessoas juntas mas aglomeradas no egoísmo.

Vida em ritmo alucinante.

Sem destino, sem objetivos.

Ter. Sempre mais.

Amealhar.

Acumular.

Crescer sem sentido.

Lutar sem razão.

Dominar o mais fraco.

A nova vida vem para mostrar que o que nos faz mudar, não é a doença.

O que nos faz mudar é o medo.

Dela.

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