FOI DADA A LARGADA
Arisco, há muito andava pelos aceros, afastado dos pastos mais suculentos, sem nunca se aproximar dos outros mais vistosos e bem cuidados.
Não costumava demorar num mesmo grupo e a cada renovação do prado, era visto com uma turma diferente.
Dava pra ver que não se submetia à nenhuma liderança.
No plantel que não se renovava há 13 anos, os alazões que dominavam o haras já não atraíam as mesmas atenções do público.
Era chegada a hora da renovação.
Com o mais buliçoso, acusado de avanço na ração de todos, preso, e a égua velha afastada da lida por discutível infração às regras do hipódromo, a plateia da direita passou a estimular o pouco conhecido Capitão a se apresentar na cancha.
Sem que nenhum turfista tivesse imaginado, placê no primeiro páreo, e a expectativa de muito treino para a grande final.
A estocada na barriga dada por maluco que nunca se vai saber, se a mando de algum adversário, interrompeu os treinamentos e clareou a pista na reta de chegada.
Depois dos dias de enfermaria, o repouso e a recomendação de não relinchar nem peitar o potro que todos sabiam, cheio de diplomas e troféus, mais preparado estava.
Desde a surpreendente vitória de Mossoró em 1933, nunca se tinha visto um grande prêmio ser ganho por paraguaio tão improvável.
Assumindo a liderança da caravana, logo que chegou ao planalto, dividiu a lida com muitos vindos da cavalaria militar, poucos de raça e outros tantos pangarés, sem educação.
Os colts dando trabalho e as estórias que apareceram que nos haras ocupados antes, a ração era dividida, rachada ao meio, quase o fazem ser substituído por outro, da reserva, com mais estrelas no peito.
Veio o martírio da grande peste e tempos mais difíceis que uma grande seca.
Apesar dos coices e de insistir em remédios não recomendados pelos veterinários seguidores da Ciência, a distribuição da porção emergencial de milho fez milagres entre os mais fracos e os esquecidos do norte.
Quanto mais se aproxima o próximo derby, sem favoritismo para o bi-campeonato, longe de ser pule de dez, a necessidade de ser amansado ainda mais, salta aos binóculos.
Os juízes mais experientes resolveram topar a parada. Subiram nos estribos.
Mostraram que as regras têm que ser cumpridas.
Deixaram de punir infrações menores que o antigo tratador-auxiliar junto com os filhotes haviam cometido há algum tempo e acalmaram o rebelde inquieto.
Mais manso, já se nota que as rédeas curtas acabaram com toda a brabeza.
A disputa que se aproxima pode não ser só contra o mansarrão matungo, recém saído de longo confinamento.
As arquibancadas ainda esperam ver na terceira raia, atropelando os famosos, um vencedor que devolva às corridas , a confiança e a tranquilidade perdidas.
O pintor e escultor colombiano Fernando Botero tem 89 anos de idade
