GERALDO MELO E O SINDICALISTA
Com a redemocratização, os médicos foram a última categoria a surfar a onda das greves.
No início dos anos 90, os consultórios e pacientes particulares representavam mais de 70% dos ganhos.
O emprego público era acessório, encarado por muitos como um bico. Um favor que se fazia em retribuição ao ensino gratuito recebido.
O governo pagava pouco e o doutor trabalhava menos ainda.
Estabeleciam suas próprias jornadas, havendo um entendimento das chefias: pior sem eles.
Mesmo assim, começaram as greves de médicos.
Novidade tão inusitada que ocupava manchetes dos jornais.
O mais difícil era a participação dos colegas nas manifestações.
Sempre ocupados com a atividade privada, não sobrava muito tempo para gritar palavras de ordem
Com inflação descontrolada dos anos Sarney e inéditas cobranças das cargas horárias, a inauguração do Hemonorte era oportunidade imperdível para mostrar insatisfação e reinvidicar melhores condições de trabalho.
A presença do Ministro da Saúde, o cirurgião Seigo Tsuzuki garantia os holofotes.
Apesar de toda a mobilização, o time dos manifestantes estava tão desfalcado que a diretoria teve que ela própria, carregar as faixas.
Era presidente do Sindicato, o Dr. Francisco Teixeira, recentemente falecido, vizinho de praia da diretora do novo serviço, a Dra. Linete Rocha, a primeira a abordar a dupla de subversivos da ordem do cerimonial, pedindo que o protesto parasse em nome da amizade e da autoridade de ex-professora.
Foi quando chegou a comitiva do Governador Geraldo Melo, que não se fez de rogado, nem de mouco.
Partiu para o enfrentamento, mas ouviu do redator desta nota, o tesoureiro de curta carreira sindical, a informação que os salários dos médicos precisariam também de um abono, como pagos a vários outros servidores, para alcançar o piso do salário mínimo.
Na eleição seguinte, o diálogo patrão-empregado virou meme no horário eleitoral gratuito.
No Governo Geraldo Melo foi implantado o Sistema Único de Saúde, com os médicos recebendo 10 salários mínimos por 20 horas semanais.
A conquista salarial durou pouco.
(Este texto, publicado há dois anos, quando da morte do Governador Geraldo Melo, volta com um quê de saudade dos políticos cada vez mais raros)