28 de abril de 2024
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IMPERDOÁVEIS AUSÊNCIAS

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Carnaval em Veneza (1879) – Vincent Stiepevich – Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque


Entre todas as incertezas que acompanham a pandemia, a mais intrigante não foi nem de leve abordada, nas centenas de horas de depoimentos, na CPI do Senado.

Muitos foram os faltosos às oitivas e não se ficou sabendo, a contribuição de uma das principais causas para a  segunda onda de contaminação.

Entre os ausentes, não apenas  os que defendiam a flexibilização do isolamento e distanciamento, clamavam pela liberação das aglomerações.

Os argumentos não se voltavam, unicamente, para a retomada das atividades econômicas.            Angariar votos, também era preciso.

Curiosamente, a regra  não foi seguida no segmento  mais regulamentado de todos.

Passeatas encheram as ruas das cidades e continuaram sendo os mais acreditados preditores dos vencedores, mais do que as pesquisas manipuladas, dirigidas, tendenciosas ou isentas.

Deixar as autorizações a critério dos prefeitos, incluídos os que disputavam reeleição, foi soltar o galinheiro inteiro na loja de cristais.

Macacos e raposas sabem: o feio é perder.

A quatro meses da maior festa  popular, os organizadores dos desfiles de carnaval já haviam suspendido os preparativos. Não teria reincidência, o desastre de um ano atrás.

Sem turistas, ensaios, nem apoio dos governos pentecostais, a folia não começava.

Afastados do  trabalho e carentes da  fama sazonal, os carnavalescos descobriram um filão  para gerar ocupação, renda e votos.

Em todas as comunidades  a onda se espalhou, com a absorção dos elementos das escolas de samba pelas manifestações partidárias.

Desde que foram proibidos os showmícios não se tinha visto tanta euforia.

O show e o comício continuaram. Juntos e misturados, às grossas vistas.

Os espetáculos desceram dos palcos e palanques e foram mostrados em movimento, na dança, no pé. Ao som das lambadas imortais.

Fantasias, alegorias e evoluções debochavam dos adversários; as músicas estridentes dos paredões de som, liberando adrenalina e a militância, antes enrustida, as frangas.

O espetáculo cívico não foi  normatizado.  Sem infrações, sem multas, nem registros cassados, mais uma vez,  a  lei Maria vai com as outras, foi a única respeitada.

Ficaram algumas lições  e sugestões para a próxima campanha, que infelizmente, o relator não incluiu na (arghh) narrativa acusatória, pois parece que o futuro, ao profano inquisidor, pouco interessa.

Com a gasolina cobrada em dólar, ficarão vedadas carreatas, passeios de moto e desfiles de jumentos.

A campanha presidencial será toda midiática, podendo nos debates, candidatos fujões, participar, desde  um leito de hospital, salvo se entubado em UTI, estiver.

Sem prejuízos para a preservação das alas-moças, os candidatos a deputado podem sim,  integrar as  passeatas. Na comissão de frente.

Os futuros governador e vice, deverão se apresentar em carro aberto, tipo buggy.

Em outro veículo igual, os concorrentes ao Senado.

Suplentes, não devem aparecer, sendo autorizados às funções de chauffeur, desde que estejam pagando o combustível.

Só serão permitidos acenos e sorrisos sinceros. Vedados, contatos físicos, apertos  de mãos, abraços e tapinhas nas costas.

As máscara poderão trazer os números dos candidatos, e não deverão ser retiradas.

A não ser quando for  para o uso de álcool.

Em doses de aeromoça, distribuídas pela carroça, último carro que sempre  fechará os cortejos.

As manifestações cívicas deverão terminar em  frente ao cemitério, onde será mantida, obrigatoriamente, uma réplica do display da mesa da CPI, em outdoor, com o número atualizado de mortos.


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