1 de maio de 2024
CidadesHistória

IMPRUDENTE DESOMENAGEM

Que a política é ingrata todos sabem.

Dúvidas podem ser tiradas com quem já perdeu uma eleição.

Quando ocorre algum reconhecimento, o tempo se encarrega de apagar a homenagem pelo legado de quem pelo bem comum, trabalhou com afinco e cidadania, trocada por agraciado mais poderoso e recente.

Nome de uma das principais avenidas, Prudente José de Morais Barros (1841-1902) não fez muito mais que figurar na lista cronológica dos presidentes da república,  nomeados em sequência, para facilitar a memorização mnemônica.

Terceiro presidente, eleito com menos de 300 mil votos, paulistano quatrocentão, não deixou rastros de sua administração em terras potiguares.

Não deve nem ter vindo provar nosso pirão de cabeça de albacora.

Mesmo com toda escassez de serviços prestados, ainda ganhou um prêmio extra.

Insistem em chamar pelo seu nome, outra artéria, como prolongamento da honraria imerecida.

Já o engenheiro Omar Grant O’Grady  (1894-1985) não consegue ter sua placa respeitada, apesar de todo direito e mérito.

Filho de pai imigrante canadense, de família irlandesa, a mãe, potiguar das pradarias e capoeiras do Inharé.

Fez os estudos básicos na província e o curso técnico superior que aqui não havia, nos Estados Unidos.

Voltou para assumir o primeiro emprego, arranjado pelo sogro e chefe da intendência municipal.

Por morte do pai adotivo, herdou o cargo  para logo ser nomeado, oitavo prefeito da capital.

Além do trivial, calçamento da Junqueira Aires, uma maquiada na Praça Augusto Severo, ajeitou o cais da Tavares de Lyra e deu uma geral na nossa Avenida Atlântica (depois Getúlio Vargas, por obra de algum outro bajulador lambe-botas).

Trouxe ideias revolucionárias,  assimiladas do jeito de trabalhar do Tio Sam.

Foi o nosso primeiro Chicago Boy.

Com o que aprendeu no  Illinois Institute of Technologytransformou o areal no pé do morro que ia dar na praia, em uma Magnificent Mile tropical.

Contratou o arquiteto italiano Giacomo Palumbo para projetar avenidas presidenciais cortadas por rios temporários de nomes tapuios.

Passados 92 anos, o resultado do seu trabalho é pouco reconhecido, mal lembrado e não tem servido de exemplo para gestores e legisladores.

O fato do pioneiro alcaide incluir na sua plataforma de governo a limpeza social”,  com a retirada de pedintes e maltrapilhos  das vias de circulação, não desmerece a sua obra, nem  dispensa a reverência.

Por que esquecer dele  na hora de seguir em frente, depois da  Integração?

O Mamoeiro 1925) – Tarsila do Amaral – Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo


(Uma primeira reação contra a desomenagem foi postada neste TL em 10/08/2020)

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