LEÕEZINHOS SOSSEGADOS

Os ombros dos poetas suportam o mundo.

Mesmo que Drummond tenha dito que  o peso carregado não é  maior que o das mãos de uma criança, a tarefa tem limites.

Caetano Veloso pediu em suas redes sociais para não ser incomodado nos próximos dias.

Entraria em “férias radicais” após uma intensa série de shows de sua turnê Meu Coco, de retumbante sucesso.

Com 81 anos e uma agenda sempre agitada, o incansável compositor baiano  revelou a necessidade de ‘dar um tempo’.

Já aconteceu o mesmo com outra figura carimbadíssima da mídia mundial.

Botam fogo na floresta tropical, não permitem que o barco dos imigrantes clandestinos atraque, descobrem mais um bispo pedófilo, não dão bolas para o aquecimento global, o governo americano manda brasa em algum lugar, ou qualquer outra crise humanitária, não falha.

Ele tem que meter sua férula.

Uma prerrogativa do cargo.

Não tem  jeito, um dia a casa cai. Ou pega fogo, a clausura.

Surgem  os sinais de tensão emocional e estresse.

Burnout (papal).

Síndrome que se manifesta em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso.

Não é a primeira fúria santa.

O acesso de cólera no pátio do templo, mesmo sem registros filmados, correu o mundo.

Ninguém ficou ferido, nem BO  foi registrado mas nunca se deixou de falar quando Ele derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam às pobres mulheres, pombas para sacrifícios.

Não reclamou dos maus tratos aos animais. Só dos preços exorbitantes.

Há três anos, em Roma, foi uma peregrina quem pagou o pato de Pequim.

Para  evitar outros incidentes desagradáreis antes que acontecesse algum safanão mais vigoroso, ou um sossega-leão pontificial, pernas pro ar, que ninguém é de ferro.

Como as férias em Castel Gandolfo ainda demoravam a chegar, o Papa Francisco provou a tese do pau também dá em Chico.

Seguiu o conselho de quem enfrentava o mesmo problema há dois anos, no Palácio do Planalto, e  sem rivotril, continuava manso e fleumático.

– Se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro.

O segredo é como equilibrar a  mitra.

 

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(O texto contém parte de ‘Bem aventurados os Mansos’, publicado 15/12/2020)