10 de maio de 2024
Opinião

Lula e FHC não apertam as mãos, nem buscam o mesmo

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 260521

A repercussão de participação de um almoço, na casa de um amigo comum, dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva serviu para mostrar como o Brasil está distante de uma democracia plural, onde os contrários podem conviver civilizadamente, como uma coisa normal.

Em campos opostos da política desde a década dos ´90, as duas maiores expressões do PT (e da esquerda oposicionista) e do PSDB (ícone do centro democrático), almoçaram juntos, no último dia 12, em São Paulo, na casa do ex-ministro Nelson Jobim, amigo dos dois.

O encontro promovido por Jobim, tornado público na última sexta-feira, ocorreu após Fernando Henrique dizer, que num eventual segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro e Lula, na eleição do próximo ano, não teria dúvida em votar no petista.

Nas vésperas de completar 90 anos (em 18 de Junho), sem exercer qualquer controle sobre o partido que fundou com Mário Covas e Franco Montoro, numa reação ao tipo de liderança que o então Governador de São Paulo, Orestes Quércia, passou a exercer no PMDB, o partido dos tucanos firmou-se por mostrar que na política é possível conversar com todos, contribuindo para tirar o PT de um isolamento com todos que não rezavam pelo seu breviário.

SEM APERTO DE MÃO

Mesmo sem, ao menos, um aperto de mãos para selar o reencontro de dois militantes contra o governo militar, os dois ex-presidentes respeitaram as recomendações sanitárias, ambos usando máscaras cirúrgicas e se tocaram com os punhos fechados – nada mais sanitariamente correto nesses tempos de pandemia.

Como em política nada acontece por acaso, é possível que nesta simbologia os dois ex-presidentes tenham demonstrado o que é capaz de provocar a união deles dois: – O estilo de fazer política do presidente Jair Bolsonaro que faz de tudo para demonstrar que, entre outros não respeita as recomendações de posições sanitárias que a pandemia impõe.

Na oposição, o PT, neste momento, não pode ficar contra ninguém que venha somar a um projeto futuro, mesmo aquele que havia sido transformado no seu maior inimigo, durante seus oito anos de governo, e era acusado de ter deixado para Lula uma “herança perversa”.

No PSDB, a reação maior foi no segmento que adotou uma postura bolsonorista; os que apostam no confronto direto e esperam que uma candidatura de Lula contra o capitão, una todos contra o petista, repetindo 2028.

Sem esquecer os quatro candidatos à candidato do partido: João Dória. Tasso Jereissati, Eduardo Leite e João Dória.

FUTURO DO NONAGENÁRIO

Sem um nome capaz de unir as suas muitas alas, sonhando com a realização de eleições primárias, é difícil que o PSDB consiga construir uma candidatura a Presidente em menos de um ano, começando pela dificuldade de encontrar um nome que seja capaz de unir as suas bases.

Pois é este Fernando Henrique Cardoso plenamente realizado, preocupado com os arremates na própria biografia que aceitou o convite para almoçar com Lula, de olho na mídia internacional, não dividindo a mesa com um futuro aliado, mas um adversário com importante papel na fixação de um estilo de tolerância e capacidade de diálogo, num Brasil verdadeiramente democrático.

A FHC, um sociólogo de prestígio mundial, reconhecido como o consolidador da democracia brasileira, não interessa o estilo Bolsonaro de ser, combatendo causas aceitas por toda a humanidade, começando pela preservação da Amazônia. Causas que tem no atual Presidente um inimigo diligente, do combate a preservação da ecologia a defesa dos direitos humanos.

O VERDADEIRO ALVO

É possível que o encontro entre os ex-presidentes FHC e Lula tenha tido o objetivo de realçar que o momento atual é de conversas de todas as forças democráticas para combater o bolsonarismo. Pelo menos esse é o diagnóstico dos participantes do encontro, começando pelo seu organizador, o ministro Nelson Jobim.

Eles destacam que no momento o que está em jogo são os ganhos obtidos pela democracia brasileira durante cerca de trinta anos, conquistados a duras penas, e para os quais, tanto Fernando Henrique, quanto Lula, tiveram participação decisiva.

O almoço, obviamente, não selou uma aliança política com vistas a eleição do próximo ano. O mais provável é que cada um dos comensais esteja em lados diferentes na eleição presidencial do próximo ano. Uma candidatura petista é quase irreversível, uma vez que as pesquisas colocam Lula num patamar muito acima de qualquer outro possível candidato da oposição, largando com cerca de um terço de intenção de voto. Enquanto FHC diz apostar numa terceira via.

PALAVRA DE CANDIDATO

A versão de Lula foi dada na sua conta nas redes sociais:

“A convite do ex-ministro Nelson Jobim, o ex-presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se reuniram para um almoço com muita democracia no cardápio”, diz a postagem feita na internet.

Lula também disse, em sua conta nas redes sociais, que ele e FHC “tiveram uma longa conversa sobre o Brasil, sobre nossa democracia e o descaso do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia”.

Depois de ser preso durante 580 dias, na Superintendências de Polícia Federal, em Curitiba, Lula, mesmo sem ter o seu caso jurídico transitado em julgado, estava condenado a 12 anos e um mês de prisão e com perda dos direitos políticos, até o processo ter sido anulado pelo ministro Edson Fachin, que também restabeleceu seus direitos políticos.

O processo que o condenava foi anulado, volta à origem deixando Lula sem condenação e livre para voar e se defender.

Ele voltou automaticamente a ser candidato e começou logo a fazer política.

Antes de FHC, ele conversou com o ex-presidente José Sarney e consta que tem se comunicado com frequência com o ex-presidente Michel Temer.

E sem dizer isso nem a dona Lidu, torce para seu adversário ser Jair Bolsonaro, que, como ele também torce para não se viabilizar uma terceira via, que lhe favoreceu em 2028 contra Hadad.

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