Lula se deixar fotografar com andador é uma questão de coerência
Por Josias de Souza
Na última terça-feira, falando para o programa oficial “Conversa com o Presidente”, o presidente Lula declarou:
“Vocês não vão me ver de andador, de muleta, vocês vão me ver sempre bonito como se eu não tivesse operado.”
A declaração foi ofensiva, incoerente e irresponsável.
Ofendeu porque o capacitismo, termo que define a discriminação praticada contra pessoas com deficiência, desrespeita os brasileiros cuja mobilidade depende de equipamentos como andadores e cadeiras de rodas.
A falta de coerência decorre do fato de que Lula incluiu no grupo que subiu a rampa ao seu lado no dia da posse uma pessoa com deficiência. Fica a impressão de que a celebração da diversidade era apenas cenográfica.
A fala foi irresponsável porque um presidente da República não é apenas uma faixa ou uma casaca. É preciso que por trás da pose exista uma noção qualquer de compromisso público.
A Presidência oferece àquele que a ocupa uma tribuna especial. Algo que o ex-presidente americano Theodore Roosevelt chamou de bully pulpit —púlpito formidável, numa tradução livre. De um bom presidente, dizia Roosevelt, espera-se que aproveite a vitrine privilegiada para irradiar confiança e bons exemplos.
Para converter declarações inaceitáveis em exemplo Lula precisa se exibir diante de fotógrafos e cinegrafistas usando um andador.
Longe de enfeiar, o equipamento embeleza seres humanos que lutam para se manter íntegros e integrados.
DO TL
O presidente Lula teve alta hospitalar antes do programado. Na noite de domingo já estava no Palácio do Alvorada para o jantar. O fato foi divulgado pela imprensa, mas sem fotos ou imagens do paciente mais acompanhado do país.