2 de maio de 2024
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LUTO: Com Covid, João Batista Machado não resiste a luta contra o câncer

 

machadinho

O jornalismo do Rio Grande do Norte está de luto, com a morte, na manhã desta quarta-feira, do jornalista João Batista Machado, que ajudou a escrever a história do RN nesses últimos 50 anos.

No tempo que a política estava proibida, o protesto de Machado vinha quando ela definia a sua profissão: “Repórter Político”. Machado integrava a Academia Norte Riograndense de Letras.

Foi assessor de imprensa dos Governos Tarcisio Maia, José Agripino, por dois mandatos, Radir Pereira e Vivaldo Costa, e do prefeito José Agripino na Prefeitura de Natal. Fez também  a Comunicação do Tribunal de Contas do Estado.

DOENÇA

Há três anos, Machadinho descobriu um câncer agressivo no intestino, que passou a enfrentar e conviver.

Os pulmões também foram atingidos e no último domingo teve diagnóstico de Covid-19, o que agravou seu estado geral da doença.

Ontem, foi para UTI do Hospital do Coração, onde seu organismo não resistiu a batalha final contra essa terrível doença.

FAMÍLIA

Machado tinha 76 anos,  deixa a mulher, jornalista Salésia Santas e dois filhos João Ricardo e Ana Flávia.

FALA MACHADO

Ele foi o segundo jornalista entrevistado num projeto de Gustavo Sobral. Vale a pena ler

“Eu lia a revista O Cruzeiro em Assú, cidade onde nasci, e me entusiasmava com a parte de política. Esperava ansiosamente a cada semana a edição que chegava aos sábados ao Café de Seu Victor, onde era vendida. Me entusiasmavam os artigos de Castelinho, o Carlos Castelo Branco, comentarista de política, era o que despertava mais a minha atenção. E desta forma eu sonhava em ser jornalista e escrever sobre política.

Assim, acredito, nasceu meu interesse pelo jornalismo. Não imaginava toda esta aventura que viveria pelas redações dos jornais Tribuna do Norte, onde comecei, e depois Diário de Natal, para onde fui convidado para ser repórter de política e assim começa a minha história no jornalismo do Rio Grande do Norte, antes e depois da offset.

Costumo a afirmar que fiz do jornalismo um sacerdócio, não comercializei minha consciência nem sujei as minhas mãos. Estive dos dois lados da profissão, porque além de repórter, também exerci a função de assessor de imprensa por décadas, portanto, fui estilingue e vidraça. Além de repórter, correspondente de O Globo no Rio Grande do Norte, por cinco anos, e colaborei com outros veículos como RN Econômico de Cadernos do Rio Grande do Norte e atuei como redator publicitário na agência Dumbo.

Assessor de imprensa, fui de quatro governadores do Estado: Tarcisio Maia, José Agripino, por dois mandatos, Radir Pereira e Vivaldo Costa, e do prefeito José Agripino na Prefeitura de Natal. Além disso servi como assessor de imprensa da Federação do Comercio do Rio Grande do Norte, SESC/SENAC e Tribunal de Contas do Estado.

Embora não tenha sido a primeira opção, me realizei no jornalismo. Pensava em cursar Direito mas ao mesmo tempo que ingressei na Tribuna meu destino começou a se voltar para o jornalismo, posteriormente, conclui o curso de Comunicação Social pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza.

O jornalismo me deu tudo o que tenho e o que mais prezo: a credibilidade. E assim também me fiz pesquisador e escritor. Publiquei livros sobre a história do Rio Grade do Norte, ingressei nesta condição no Instituto Histórico e Geográfico do Estado e na Academia Norte-rio-grandense de Letras.

Meu pai resolveu me mandar para estudar em Natal. Capital do Estado, havia mais chance de eu encontrar meu caminho na vida. E assim, vim para Natal. Me alojei na Casa do Estudante e conclui o ginasial e o clássico até que um dia o acaso colocou o jornalismo diante de mim.

Saindo do colégio resolvi passar no Palácio Potengi, sede do governo do Estado, onde geralmente encontrava pessoas de Açu e foi quando encontrei o jornalista Walter Gomes, que eu conhecia, me perguntado o que eu fazia Natal. Expliquei que viera estudar e ele perguntou se eu não gostaria de fazer um teste para ser jornalista.

Concordei e na manhã seguinte, como combinado, estava na Tribuna do Norte e para minha surpresa fui logo por ele apresentado ao jornalista Francisco Macedo e informado de que seria o novo foca. E eu que nem sabia o que significava isso. Macedo me explicou, significa novato. Me explicou rapidamente como se fazia uma notícia e me mandou naquele mesmo momento entrevistar o teatrólogo Sandoval Wanderley que ensaiava a peça Taberna Azul no Teatro Alberto Maranhão.

Entrevistei-o e redigi a notícia que no dia seguinte estava estampada na Tribuna do Norte e desde então não parei mais. Na redação da Tribuna encontrei Walter Gomes na função de editor geral, e na reportagem os jornalistas Cassiano Arruda, Abimael Morais, Luiz Sérgio Galvão, Gutemberg Mota, Ana Maria Cocentino Hamilton de Sá Dantas, Helio Cavalcanti, Albimar Furtado, entre outros.

E ainda havia um time de colaboradores: Berilo Wanderley, Luís Carlos Guimarães, Woden Madruga, Newton Navarro, Sanderson Negreiros, Rômulo Wanderley, Nei Leandro de Castro e Paulo de Tarso Correia de Melo e Moacyr Cirne dividindo uma coluna sobre cinema. O colunista social era Paulo Franssinetti e o esportivo, João Machado.

A primeira matéria assinada que publiquei intitulava-se “O pequeno mundo de Vicente” sobre um retirante e sua família que viviam numa Kombi estacionada na Ribeira. A Tribuna era um jornal padrão Jornal do Brasil que incorporara as inovações do jornal carioca trazidas pelo jornalista Walter Gomes. A tônica impressa por Walter era de trazer na primeira página as notícias locais abandonando a prática corriqueira de imprimir artigos com fotos do noticiário nacional e internacional.

Walter era partidário de uma máxima de Chaplin: a vida é o tema local. Diferente do Diário de Natal que na sua primeira página estampava as notícias policiais o que o fazia um jornal de grande vendagem e popular. Sensacionalista, comandava-o o jornalista Luiz Maria Alves.

Passei pela reportagem policial, onde todos começávamos, era a prática, depois cheguei à editoria de assuntos gerais e em seguida à política. Era o tempo da campanha para o governo estadual, disputavam os candidatos monsenhor Walfredo Gurgel e Dinarte Mariz aquela eleição de 1965. Fiquei responsável pela cobertura da campanha do monsenhor. Diariamente, eu apurava o roteiro da campanha e as notícias eram publicadas com destaque na primeira página.

Na condição de repórter da Tribuna, comecei a acompanhar a movimentação política e a ganhar confiança. Fator extremamente necessário ao exercício do jornalismo político. Assim nascia o repórter político que em mim havia.

Quando da eleição do monsenhor Walfredo que levou aquele pleito, eu deixava a redação da Tribuna. Recebera uma oferta para trabalhar no Diário e fui para pauta de assuntos gerais. Mas foi por pouco tempo, logo fui destacado para cobrir o Palácio Potengi, ou seja, a agenda do governador empossado, e a movimentação da Assembleia Legislativa. E comecei a assinar matérias e reportagens sobre política.

Por sugestão do chefe de reportagem, o jornalista Sanderson Negreiros, comecei a entrevistar personalidades que marcaram a vida pública do Estado. Não foi uma ideia de acatei de pronto, o dia-a-dia da profissão já me exigia bastante, além da cobertura das duas casas, o governo e a assembleia, era minha obrigação cumprir três ou quatro pautas diárias e compor uma página inteira para o jornal de domingo.

O Diário circulava aos domingos com o título de O Poti. Mas fui em frente, este material depois eu reuniria em primeiro livro, De 35 ao AI5. A redação do Diário já adquirira antes de mim, outros jornalistas e colaboradores da Tribuna.

O novo Diário ganhou instalações modernas na av. Deodoro no ano de 1970 e o moderno sistema de impressão anunciado no dia da inauguração na página do jornal, edição de 13 de junho. O editorial saiu da pena de Sanderson Negreiros e elogio do presidente dos Diários Associados, Paulo Cabral, que viera para a inauguração: podia ser até publicado no New York Times.

Assim enxugou a folha de pagamento e economizou papel (vivíamos tempo de crise de papel). O Poti se fixou como um jornal de grandes reportagens sobre a cidade e o Diário um vespertino sensacionalista, que explorava o noticiário policial. Foi um sucesso de vendas e de críticas que Alves respondia com uma frase do ex-presidente do Chile Eduardo Frey: o povo gosta do trágico e do grotesco.

O sistema ofsset sustentou a mudança e permitiu as grandes tiragens, o jornal ganhou praça em todo o Rio Grande do Norte. As novas instalações na Av. Deodoro, no bairro de Petrópolis, em nada pareciam com a precária da av. Rio Branco, na Ribeira. Não havia luxo, é verdade. A redação dividia espaço com a impressão sem a confusão do antigo prédio. As tiragens cresceram e o leitor com o offset poderia ler o jornal sem sujar as mãos”.

DO TL 

O RN perde uma grande figura, o jornalismo uma referência , e eu, um grande amigo. Vá em paz, Machadinho.

One thought on “LUTO: Com Covid, João Batista Machado não resiste a luta contra o câncer

  • Nicolau Frederico de Souza

    Machadinho deixa um legado de honestidade, ética, profissionalismo e fraternidade. Minhas condolências à colega Salésia Dantas e filhos.

    Resposta

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