6 de maio de 2024
Carnaval

MACETANDO O ARMAGEDOM

A Visão de São João, ou A Abertura do Quinto Selo do Apocalipse (1614) – El Greco – MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque


Há três anos, no pico da Pandemia, uma notícia deslocou a manchete do número recorde de mortes em um único dia, para os cantos de página de todos os jornais.

Mesmo se tivessem acontecido as quedas de sete aviões lotados de passageiros, o anúncio de decisão judicial monocrática não causaria o mesmo impacto.

A decisão do sacerdote supremo que prevaleceu às de todos os  outros doutores das leis foi o sinal que o maior de todos os embates estaria prestes a acontecer.

Ninguém ficaria fora da próxima eleição.

E do fim dos tempos.

A bomba estourou nas redes sociais operando o milagre da divisão instantânea das águas que andavam turvas e tumultuadas.

Misturadas, derramavam-se fora dos cursos, como se esperassem alguém para drená-las em direção a alguma represa que ajudasse o povo a viver melhor.

Voltavam as definições.

O que era pedra, o que era pau.

Contra ou a favor, sem lugar para espectadores em cima dos muros.

Sem intermediários, sem postes; sem postos de combustíveis.

Quem esperava  o aparecimento de algum novo  salvador da pátria ficou sabendo que o confronto derradeiro seria entre as tropas dos dois velhos comandantes, nenhum inocente e puro.

Até a data fatídica de 02/10/2022, muitas batalhas e lutas seriam travadas.

Nas ruas, mídias sociais, urnas e tribunais.

Famílias que ainda choravam as perdas dos mais queridos, de novo ameaçadas de viverem as mesmas cismas de três anos antes.

O exército real, composto por mercenários estaria pronto e coeso.

Se não faltasse munição.

Nem verbas, nem cargos comissionados.

Para manter as posições, o regente da vez contava com o apoio dos gentios e no fascínio que as moedas dos auxílios emergenciais exercem sobre eles.

Como desafiante, o general que mais disputara torneios eleitorais, voltava com o apoio do fiel exército que sobreviveu às mais agourentas previsões dos cientistas políticos.

Bandeiras e camisetas vermelhas ao sol, quando perdessem o cheiro de guardado e da naftalina, estariam  enchendo as praças e universidades.

A ração de sanduíches de mortadela começava a ser estocadas pra quando os decretos de lockdown permitissem alimentar caravanas da cidadania pelas terras dos sertões, reacendendo as chamas das paixões e as esperanças da retomada do poder.

Os sinais estavam escritos no livro do Apocalipse:

Cairá do céu uma grande estrela, ardendo como uma tocha.

O diabo não é fácil de ser batido e conseguirá se libertar e voltar para a batalha final”.

Do outro lado,personagens igualmente assustadores, como quatro cavaleiros espalhando fome, guerras e peste.”

Estudiosos das escrituras tentavam desvendar os mistérios.

Falaram de  um coiso, uma besta-fera que acompanhada dos seus garotos, espalharia discórdia e fakenews.

E de um falso Brahma, aquele que dizia ter tudo criado e que nada havia antes dele.

Quando tudo parecia não ter saído como profetizado, eis que do alto de um trio elétrico, a polêmica entre duas cantoras baianas, avisa que o fim está só macetando.

São Martinho e o Mendigo (1599) – El Greco – Galeria Nacional de Arte, Washington

Assista o videoclipe:

Macetando – Ivete Sangalo part. Ludmilla


(Este texto é uma revisita d’ A Batalha Final, publicado em 11/03/2021)

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