MANSPLAINING NO BOSQUE
No dia do repouso bíblico, o sétimo, os mais renitentes não perdem a feira da São José, granjeiros vão buscar as macaxeiras mais caras do mundo, enquanto os fazendeiros contam em minutos, as boiadas passando pelas porteiras, para na segunda, não faltar assunto nem a previsão do tempo no árido relato da seca que sempre recomeça.
No Bois de Boulogne, Lakefront, Central Park e nas ruínas do calçadão da Praia do Meio, os senis caminhantes e jovens corredores aproveitam o verão deles e a nossa eterna estação, para reaprender a viver sem as focinheiras medicinais.
Os sucessivos decretos de medidas restritivas para o enfrentamento da pandemia, na 48° versão flexibilizada, ainda não contemplaram a dispensa do uso dos protetores oronasais.
Em Israel com um número de vacinados que não alcança 10% dos brasileiros, uma ampla campanha publicitária, de bater saudade nos donos daquela rede de TV, voltou a mostrar sorrisos capazes de levantar suspeitas sobre o respeito dos ortodontistas ao lockdown.
Nos jardins da Casa Branca, o Presidente Joe Biden iniciou uma entrevista coletiva usando seu mais competente cabo eleitoral, para tirá-lo num enquadramento e close que só pode ter sido dirigido pelos bambambãs de Hollywood.
A imagem correu o mundo e viralizou como símbolo do começo da vitória na crise sanitária.
Espera-se que antes que os estafados professores retomem a greve e o apitaço interrompidos pela pandemia, a Governadora Fátima também faça seu gesto de alforria estética e liberdade das vias aéreas superiores.
A rampa da governadoria, a guarda palaciana perfilada em fila dupla, a banda da polícia tocando o dobrado estilizado Sonífera Ilha, os bajuladores de sempre e as representações dos movimentos populares, serão o cenário perfeito para o lançamento da campanha RN + vacinas e menos máscaras ao ar livre.
A medida com total respaldo da Ciência e dos cientistas que dão plantão nos canais de notícias 24 horas, é necessária e urgente, sob pena de aprofundar mais ainda o fosso entre militantes ptcepeistas e a recalcitrante milícia bolsonariana.
Os primeiros raios fulgentes da manhã primaveril no Bosque dos Namorados foi palco de um quase arranca-rabo entre contrários, envolvendo alquimistas politizados que transformam tudo que tocam, em dialética.
Faltou pouco para o emprego de argumentos escatológicos, chulos, segundo a asséptica apresentadora do Jornal Nacional.
A solitária jogger, neófita, notada mais pelo frescor da juventude que a forma que procurava encontrar de novo, em desacordo com o legging; cabelos em fuá e axilas alérgicas às lâminas de barbear, perguntou ao mais experiente da trinca de decrépitos que vinha em sentido contrário, se o coronel honorário do exército da camaradagem não sabia que no pescoço, a máscara não atende à obrigatoriedade legal.
Tivesse abordado um machista, misógino ou fascistóide, a petulante reclamante, teria recebido uma resposta menos gentil e mais anatomotopográfica.
A justificativa do óbvio foi apresentada de forma ríspida, em tom paternalista e másculo, mesmo assim, condescendente; apesar de imprecisa e simplista, como se a jovem politicamente correta fosse incapaz de entender a explicação.
O silêncio calou até o trinado dos cancões, sinal que a mensagem foi recebida pela desamada, como mais um flagrante e abominável caso de mansplaining.
Tem gente criticando os jornais da globo. Eu não posso criticá-los pelo simples fato de abolido
essa emissora no meu aparelho de TV. Satisfasso-me com a BAN e a Recod e ainda Rede Viva.