9 de maio de 2024
Imprensa Internacional

Neutralidade é quase simpatia

A aparente e não-declarada neutralidade do Brasil na Guerra da Ucrânia, está sendo vista pelo jornal mais influente no mundo, como tendenciosa, em  apoio aos invasores.

Numa ampla reportagem, o conflito desigual parece justificado por uma lista de países supostamente  simpáticos aos russos.

China, Índia, Vietnã, Afeganistão, Quênia, África do Sul, Sérvia, Israel e Brasil, estão sob suspeita, pela falta de atitudes mais firmes dos dirigentes e algumas opiniões colhidas nas ruas.

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Pessoas em Belgrado este mês seguram bandeiras russas e sérvias e uma foto do presidente Vladimir  Putin,  durante um comício organizado por organizações de direita sérvias em apoio à invasão da Ucrânia. Foto: Andrej Isakovic/Agence France-Presse — Getty Images


Em países amigos da Rússia, as pessoas estão preocupadas com a guerra e a perda de vidas, mas alguns dizem que acham que Putin tem razão.


Fonte: John Eligon para o The New York Tines, em 17/03/2022

Para um cineasta independente em Hanói, Vietnã, o presidente Vladimir V. Putin da Rússia é um “líder sábio”.  No Rio de Janeiro, um ex-dono de restaurante disse estar convencido de que a Ucrânia havia contratado atores para fingir ferimentos de guerra.  E um médico de 27 anos que mora perto de Nairóbi, no Quênia, questionou como os americanos podem ficar indignados com a invasão russa quando “por tanto tempo, eles tiveram o monopólio da anarquia”.

A maior parte do mundo condenou ruidosamente e inequivocamente Putin por desencadear uma guerra com a Ucrânia.  Mas em países onde os governos permaneceram neutros, apoiaram tacitamente a Rússia ou encorajaram a disseminação de relatos falsos ou higienizados da guerra, os cidadãos estão expressando uma narrativa muito mais complicada e indulgente da invasão de Putin.

Entrevistas com dezenas de pessoas nesses países – do Vietnã ao Afeganistão, da África do Sul à China – revelam que, embora muitos estejam perturbados com a guerra e a perda de vidas inocentes, alguns são simpáticos às justificativas da Rússia para a invasão da Ucrânia e não  aceitar o cenário do bem contra o mal apresentado pelos Estados Unidos e Europa.

Suas visões são moldadas por fatores como os laços profundos e históricos de seus países com a Rússia e a história de intervenções e atrocidades perpetradas por alguns países ocidentais – bem como desinformação e censura que em alguns lugares é propagada pelo Estado.

Muitos encontraram ressonância no argumento de que o esforço da Ucrânia para ingressar na OTAN comprometeu a segurança da Rússia.  Alguns se apegaram à nostalgia da antiga União Soviética.  Outros ainda não podiam ficar do lado de um Ocidente que consideravam hipócrita.  Essas atitudes ajudaram a preparar a bomba para o florescimento de teorias da conspiração sobre a guerra.

“Os EUA invadiram o Iraque e ninguém fez o mesmo barulho que as pessoas estão fazendo contra Putin”, disse Eni Aquino, 52, comentarista esportivo de Goiânia, no centro-oeste brasileiro.

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem fortes laços com Putin e voou para Moscou logo antes da invasão, mas assumiu uma posição de neutralidade na guerra.  As pesquisas mostram ampla aprovação para essa postura.

Arthur Maia Caetano, 68, disse que desde que fechou seu restaurante no Rio de Janeiro por causa da pandemia, ele tem usado seu tempo para ler sites de notícias russos e boletins dos cerca de 70 grupos que segue no aplicativo de mensagens sociais Telegram .

“Quando comecei a olhar atentamente para a guerra, vi que o primeiro a morrer é a verdade”, disse Caetano, citando alegações infundadas que circulam online, como a de que a Ucrânia contratou atores para fingir que foram feridos e que mantém  laboratórios de armas financiados pelos Estados Unidos.

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