NOSSA TRAGÉDIA GREGA
Para paulistanos da Barra Funda, uma simpática taverna de esquina tranquila, com mesas espalhadas pelas calçadas, onde convivem em paz, as culinárias grega e turca. O chopps e o ouzo.
Do outro lado do mundo, no porto de Pireu, mais um restaurante, da sofisticada alta gastronomia mediterrânea.
Se engana quem associa o nome comum, Laskarina a um grande chefe de cozinha ou a alguma iguaria exótica.
Enquanto no jogo de cartas marcadas, de pai para filho, sem brigas, só com um único e ensaiado grito, conquistávamos a nossa, os fundadores da democracia estavam em luta sanguinária pela deles.
Na independência ganha nas hercúleas batalhas contra o império otomano, uma heroína fez nome e história
Nascida numa prisão de Constantinopla, onde o pai cumpria pena e faleceu, foi criada em Hydra sob a proteção dos deuses e da rainha Iemanjá.
De ilha em ilha, a paixão pelo mar.
Em Spetses, pelos homens, ancorou.
Mais uma helena à espera dos viageiros, duas vezes jogados ao mar com todas as honras que só capitães de longo curso recebem.
Na nesga de terra firme, sete filhos pra criar e uma imensa fortuna a cuidar.
Ao invés dos longos bordados, teceu grandes navios.
Agamemnon, a jóia da sua coroa de louros, com 18 canhões, venceu a guerra e seus sultões e libertou as mulheres dos haréns.
A vida, finda aos 55 anos numa batalha sem fama. Um tiro vingativo ao furto de uma moça pelo filho apaixonado.
A contra-almirante-póstuma Laskarina foi a primeira mulher condecorada pela marinha russa.
Em cada cidade grega, uma rua tem seu nome.
No coração e nas mentes dos compatriotas, veneração.
Vida, glória e memória perpetuadas no museu insular, um dos 1000 lugares para se conhecer antes de morrer, agora manchadas para sempre.
Pelos mares, parrachos, mangues e praias de terras tão distantes, Laskarina Bouboulina também jamais será esquecida.