3 de maio de 2024
Familia

NOSSOS 21 ANOS

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A GRANDE FAMÍLIA


Se a homenagem era inusitada, muito mais, o raro momento da comunicação inédita.

Dezesseis anos depois do fato  meritório

A família reunida, parentes de várias moradas, muitos conhecidos ali nas conversas de apresentações rápidas, antes  da missa em memória do patriarca, marcando os cem anos de sua chegada à pequena cidade que ajudou a construir.

No almoço, entre uma música e um discurso, mais prosas e promessas de visitas mútuas e contatos mais frequentes pelas redes sociais.

Já nas despedidas para a viagem antes do lusco-fusco, um primo, dos que nunca haviam deixado a terra querida, aproxima-se para  dois dedos de conversa.

Depois da contagem dos filhos e inventário dos mortos, relembra um fato já esmaecido na memória sexagenária.

Achava-se devedor de imenso favor recebido do primo médico quando esteve entre a vida e a morte no hospital que atende a todos. E para onde são levadas todas as  vítimas da violência interpessoal.

O tratamento e os cuidados comuns, haviam sido interpretados como deferência especial movida pelo parentesco. A atenção da ilustre visita médica diária, um fato excepcional.

Ali estava para a constatação do bem-estar e da recuperação sem sequelas.

E que havia conservado o nobre sentimento da gratidão.

Em reconhecimento, o nome do filho que veio um pouco depois do seu renascimento, era igual ao meu. Que outro primo, também médico, por obséquios semelhantes, em outras situações menos agudas, foi merecedor  do mesmo preito.

Não cheguei a conhecer o xará, homônimo ipsis litteris, agnome incluso, ausente das festividades por motivo de doença ou escola mas um encontro foi marcado. Naquelas agendas que nunca mais são consultadas.

Do pai e do filho, nenhuma notícia mais. Nem contato.  De vez em quando, só a evocação do gesto tão generoso como medida de agradecimento.

E a curiosidade de saber como a vida os estava tratando.

A resposta chegou vestida de surpresa carmim. E cinza tristeza.

No acompanhamento de processos judiciais, como fazem todos que tiveram a infeliz desdita  de ter sido secretário de saúde, apareceu mais um.

Alguma acusação por crime sem prescrição nem atenuantes, oito anos, um mês e treze dias depois de exorcizado pelo Diário Oficial, foi imaginada.

Pior.

Alvará de soltura e concessão de liberdade provisória com as restrições condicionantes a serem cumpridas.

E a torturante  pergunta.

Por que aos 21 anos de idade, Domício Arruda Câmara Sobrinho fez aquilo que confessou ao Delegado de Polícia de Santo Antônio do Salto da Onça?

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2 thoughts on “NOSSOS 21 ANOS

  • Eva Cristini Arruda Câmara Barros

    Querido primo,
    Meu potencial empático me leva a ter noção do que se passa em seu interior.
    Fico procurando no que você se agarra…
    Bela família, invejável trajetória profissional, status social distinto ???
    Tudo isso conta, você aí lutando consigo mesmo, enfrentando essa situação, munido desses bens amealhados ao longo de sua vida.
    Possivelmente, o fator disparidade entre os dois Domicios, por si só, se encarrega de lhe aliviar as tensões, arrefecendo seu drama.
    Ledo engano. Imagino reascender em você seu lado humanitário que jamais escolheria essa via para angariar distinção.
    Infelizmente, no seu caso, não há outro jeito: seu sofrimento lhe engrandece, e até sobra para distensionar o outro Domício

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    • Domicio Arruda

      Isso mesmo.
      Por menor a convivência que tivemos, as origens são as mesmas.
      Na nossa família, claramente nota-se um arpartheid.
      Os que valorizaram ou não a Educação.

      Resposta

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