NOTÍCIAS DA MAROCA
Quando chegou a má notícia, o fazendeiro de primeiras invernadas achou que seria mais um prejuízo a ser contabilizado no negócio que já haviam alertado, não traria lucros.
No campeonato dos investimentos, jogo pelo empate à espera da prorrogação para ser disputada pelos sucessores, em tempos melhores, sob a proteção divina e da nova economia, quando a pandemia passar.
Em tais condições pressóricas, térmicas e pluviais, acidente como se ofídico fosse, é risco inerente à atividade pastoril.
No lusco-fusco do poente agreste, uma vaca amojada e arisca, pulou o que já não era mais sua primeira cerca.
Talvez em erro de cálculo, antes das patas do touro sedutor, foi acolhida pelas rodas de possante camioneta.
Com os primeiros socorros, a gestante estava bem; o bebê-bezerro também.
Entre mortos e feridos, todos haviam sobrevivido.
No dia seguinte, a estória recontada era outra.
A vítima virou atropeladora. E logo de uma turbinada Amarok, tão nova, que ainda nem placas tinha.
Ficaram marcas no asfalto, no lombo da fujona e na conta bancária do infeliz proprietário. Do animal.
Que o prejuízo do motorizado foi ressarcido depois de ameaça de BO, consultas à jurisprudência dos costumes atávicos regionais e na preservação da boa reputação familiar.
Do fatídico episódio, restou a necessidade do reforço das velhas fronteiras, apodrecidas e enferrujadas por oxidação do tempo, em limites protegidos por sabiás e ursos gerdau, mais resistentes.
Além de um marcante nome pagão, evocando a gigantesca loba solitária do Ártico, para a quase celebridade rural, a mais mimosa do rebanho.
Passado pouco mais de um ano, o plenipotenciário feitor geral, formado na escola Irapuru, do Majó Theodorico Bezerra, convida para uma visita à maternidade virtual, nas fotos do WhattsApp.
Com auspiciosa boa nova.
–A Maroca deu outra cria.