28 de abril de 2024
Coronavírus

NOVO MEDO DE SAPATO VELHO

A57441E2-97B6-40E9-8E16-D46131BFE369Difícil a compreensão  pelos filhos, imagine netos.

Foi preciso uma ordem mundial para o recolhimento e a imersão em pensamentos e memórias. E tempo pra dar e emprestar. Que ninguém recebe.

Tudo começa com  a aceitação da nova classificação etária que já devidamente registrada há quase uma década, só vinha servindo de bônus.

Nos ingressos a preço dos tempos de colégio, fura-filas prioritárias e estacionamentos reservados.

É preciso também, um tanto de resignação.

Agora,  obrigado ao isolamento sócio-familiar,  ameaçado de ser mandado, na primeira remessa, para o altar dos sacrifícios eugênicos, é hora de organizar, com esperança,  o temário para futuras revisitas ao passado.

Explicar para os mais jovens, o que mudou em trinta anos,  tem suas dificuldades.

Diferenças de 60, só mesmo repetindo e repetindo as mesmas estórias. Repetindo, ao ponto de nem mais serem escutadas. Repetindo o risco agravado de ganhar pré-diagnóstico teuto, sombrio.

Menos pelo tema recorrente, mais por falta de referências para o entendimento, o diálogo não destrava.

B9E0DC44-06E1-47E8-818B-9C5ABD1C0B1CVamos a um exemplo prático, proibido para menores de 18 anos.

Como falar da amizade de menino com o filho do sapateiro Loyola?

Lá vem a necessidade da primeira digressão.

Não é peça de mobiliário para guardar chinelas japonesas, havaianas e tantas outras dupé.

Trata-se de profissão reconhecida pelo Ministério do Trabalho, exercida por proletários, simpatizantes dos regimes políticos socialistas.

Isso mesmo.

Bando de comunistas ateus. Gente que não perdia procissão nem novena da padroeira, sem tirar o olho gordo das posses dos usurpadores das riquezas populares.

Simpáticos, conversadores, fabricavam em suas oficinas, cubículos fedorentos a chulé e couro mal curtido e ao mesmo tempo, cheirando à cola que virou droga, sapatos.

Para homem, mulher, menino e todo devoto de São Severino.

Parecidos com esses sapatênis que se compram na netshoes.

Feitos sob medida, a partir de formas personalizadas, com direito a escolha de pedaços de material quase monocromático e sola ao gosto do freguês.

Só tergiversando ainda mais para o entendimento.

Quando caíram no gosto,  os vulcabrás e as botinas sete léguas, a profissão sofreu um downsizing. E se reinventou.

Os artesãos tiveram de se especializar em um segmento da linha de produção.

Recall, na reposição de peças danificadas.

Perderam toda criatividade.  O design e a moda passaram  a ser ditados em terras de França, Milão e Franca.

Sobravam os consertos e remendos. E as meia-solas.

Os calçados, mormente os dos garotos buliçosos, sofriam desgastes tanto no rosto, a face visível, como na sola, o contato com o respectivo masculino.

Consertos incluíam remendos com manchões, retalhos colado por dentro e alguma sutura que depois podia ser disfarçada com fenômeno e graxa.

De volta do Google, você, de menor que infringiu a proibição do Departamento de Censura Federal?

O ronaldinho filho de lula era um líquido espesso, parecido com esses lustra calçados que ainda se encontram por aí nos supermercados. Junto com as esponjas de silicone.

Os engraxates (mais muído e assunto pra depois) pincelavam com um produto de secagem rápida. Daí a chamativa e surpreendente marca que virou nome,  como se lâmina de barbear fosse.

No ritmo frenético da flanela, ficavam tão polidos que na falta de um menos cego, virava espelho.

Quando o medo de matar os avós passar, eles voltarão ao aconchego e ouvirão esta e muitas outras estórias.

Repetidas.

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