2 de maio de 2024
Opinião

O ano letivo que não existiu na rede estadual de ensino do RN

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 16/08/20

Um ano diferente de todos os outros não vai terminar nem quando acabar a pandemia, responsável por toda essa revolução que modificou a vida de cada um de nós.

E ninguém – ninguém mesmo – nas duas pontas da vivencia dessa enorme questão, se arrisca a fazer alguma projeção do que se pode esperar, assim como avaliar o que já aconteceu.

2020, para alunos e professores, continua sendo um enorme mistério. Inclusive para avaliar o passado; o que se passou nesses sete meses. – A questão da Educação é plural.

Com múltiplas visões: a do aluno, do professor, dos pais e de um novo personagem: – o gestor, como o pessoal da administração está gostando de ser chamado.

No Brasil, são diferentes visões. E mesmo em cada Estado são muitas as situações a serem analisadas. Aqui mesmo, no nosso Rio Grande do Norte, os alunos de parte das escolas particulares, estão voltando a ter aulas presenciais. O aluno da escola pública no RN já sabe que este ano não tem aula com professor e aluno na sala de aula.

NINGUÉM PREPARADO

No meio de tantas diferenças, existe um aspecto comum: Todos foram surpreendidos para enfrentar um problema que nunca havia sido previsto, em nenhum lugar.

Do mesmo jeito que na área médica, onde o tratamento foi sendo definido enquanto estava sendo ministrado, com o ensino a situação foi parecida.

Definida a necessidade de suspensão das aulas, cada um foi ver o que era possível fazer. Todos atendendo uma voz de comando muitas vezes repetida: – Fique em casa.

Para simplificar as coisas vamos concordar que na nossa escola pública serão 200 dias sem aula de verdade, as chamadas aulas presenciais. Isso porque 200 dias é o número mínimo de aulas que o governo exige.

Na escola particular existe uma expectativa de que possam ter ainda uns 70 dias de aulas, embora metade do alunado vá participar da aula presencial a cada semana, enquanto a outra metade continua no sistema remoto, com uma tabela de rodizio, para atender as limitações impostas pelas autoridades sanitárias. Tudo para evitar o retorno das infestações com o novo corona vírus.

O EXEMPLO DE MANAUS

A primeira capital no Brasil a retomar as aulas presenciais, Manaus, não registrou nenhum novo caso de Covid-19 em sua rede de escolas particulares, nos dois meses seguintes.

A decisão de retomar as aulas em julho, foi baseada no diálogo constante com as famílias e as autoridades de saúde pública do Amazonas. Um plano de volta às aulas foi montado com base nos protocolos internacionais, a partir de seis eixos: distanciamento, higienização, uso de equipamento de proteção, maior espaço entre pias e banheiros, aferição de temperatura corporal e comunicação imediata se alguém apresente sintomas.

Na rede pública houve uma tentativa de retomada na mesma época, cancelada depois que 342 professores comunicaram ter contraído a doença, confirmando as previsões difundidas pelo sindicato da categoria para se pronunciar contra o retorno das aulas. Existem conversações para que haja uma nova tentativa na escola pública.
Manaus também foi a primeira cidade a apresentar redução nos índices de transmissão de infestações e no número de mortes.

SEM AULAS

Com 200 dias sem aula, o Brasil conquista mais um título mundial. Não tem pra ninguém.
Uma visão de vários países, oferece um quadro com a interrupção das aulas em vários pontos. Na Dinamarca, por exemplo, as escolas públicas ficaram sem aulas presenciais durante 30 dias.

Na França foram 56 dias, na Alemanha, 68…
Em todo o mundo, o número de crianças infectadas pelo Coronavírus é em torno de 1% desse universo; e o registro de óbitos fica na casa de 1% daquele 1%. Mas no Brasil foi criado um movimento que terminou sugestionando os pais dos alunos, que deram força aos sindicatos dos professores contra a volta às aulas.

Para os professores que ficaram efetivamente com aulas virtuais, me revelou um deles, o pior é a falta de segurança na apreensão pelo aluno do conteúdo das aulas ministradas, ficando as provas aplicadas como a única forma de feed back possível. Em compensação está ficando um arquivo das aulas dadas à disposição dos alunos, podendo ser consultado inúmeras vezes.

O ANO QUE NÃO EXISTIU

– Esse ano não existiu, do ponto de visto do processo estrutural de ensino e aprendizagem.

A afirmação é da Presidente do Sindicato dos Professores do RN, Fátima Cardoso, que ainda tira uma carta de seguro, numa entrevista a Cláudio Oliveira da Tribuna do Norte:

-A realização de processos seletivos só privilegia os alunos da rede particular que tiveram 100% de acesso e alto investimento das escolas na aula remota. Temos professores que estão fazendo grande esforço na produção de aulas, para manter contato com os alunos, mas ainda é uma situação vulnerável e insuficiente para competirem com os alunos da rede privada.

As escolas particulares tiveram de fazer um grande esforço, até com manifestações de rua para voltar a ter aulas de verdade, proibidas pelo governo, e preparar melhor os seus alunos, sobretudo os que estão concluindo o curso médio.

Na conclusão do curso existe uma avaliação aceita por todos que termina num confronto com data marcada para ser realizado: 17 e 24 de janeiro do próximo ano, com a realização do ENEM. Escapando desta, há a inevitável avaliação do mercado que é implacável com os menos preparados.

São 17.657 estudantes das escolas públicas do RN que estão inscritos para o exame nacional que dá acesso à Universidade, o ENEM. E que, pelas palavras da Presidente do Sindicato dos Professores, não estão preparados para o exame. Aula presencial só em 2021. Se o Covid-19 não reincidir.

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