2 de maio de 2024
BBB

O BROTHER ANCESTRAL

Dança para a música do tempo (1636) – Nicolas Poussin – Coleção Wallace, Londres


Nos primeiros dias, ainda se faz confusão com os nomes e personalidades dos participantes, mas não tarda eles carimbam  seus rótulos comportamentais nas testas.

Um dos 50 personagens de ficção mais influentes da literatura mundial está há mais de  vinte anos na televisão brasileira, emprestando seu nome ao reality show.

Acertou a mão quem cozinhou, com um toque tropical, o programa que insiste em brigar pela audiência enquanto em vários outros países, o público já enjoou do tempero pasteurizado, há muito tempo.

Transplantado do romance 1984 de George Orwell, publicado quatro anos após o término da segunda grande guerra, o conceito que o Grande Irmão está te vendo, mudou para todo mundo está vendo o Big Brother.  E todos os inquilinos da sofisticada casa.

O Brasil ainda está vendo a mansão mais vigiada.

O alerta, depois dos anos de chumbo, bombas, sangue, suor e lágrimas, para os perigos do stalinismo como sucessor do regime nazista, vira diversão, passatempo, entretenimento e, por ironia, ditadura de moda.

Um estado que punia quem pensasse diferente, com prisão e tortura e mantinha estrito controle e vigilância total sobre todos os seus habitantes.

Um programa que premia quem elimina mais pessoas do convívio confinado, com grana bastante para a independência financeira.

Há quatro anos,  uma médica pediu demissão dos seus empregos para embarcar na aventura e no jogo, em busca da arca do tesouro midiático. Voltou à clínica com o sucesso adquirido enquanto vestia outros jalecos mais reveladores.

Provocações, tarefas a cumprir, tramas, armadilhas e opotunidades para relacionamentos mais íntimos, é o que espera o irrespeitável público.

Winston, no BB original, símbolo dos valores civilizados, enfrenta o desafio de preservá-los das ameaças do estado totalitário.

A Liga Anti-Sexo,  a mais flagrante  manifestação do controle estatal da vida dos cidadãos, foi a primeira a ser esquecida na versão televisiva.

Até no auge da pandemia, as câmeras indiscretas estiveram por toda parte.

No globalismo, somos todos participante do grande show da vida, guiados por forças invisíveis que controlam nossas passos, mostram nossos limites e decidem quem sai do jogo, depois de ter enfrentado  o paredão pandêmico final.

 

Bacanal de Putti (1626) – Nicolas Poussin – Galeria Nacional de Arte Antiga, Roma
Bacanal diante da estátua de Pan (1633) – Nicolas Poussin – Galeria Nacional, Londres

(Texto original publicado em 21/01/2022)

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