3 de maio de 2024
Política

O CÃO QUE NOS GOVERNA

O Inferno (1510/1520) – Autor: Mestre português desconhecido – Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa


Há três anos, no balanço político do fechamento da segunda década, a premonição do que iria acontecer na eleição que ainda parecia distante.

Sem ter vencido em nenhum estado nordestino, o Presidente Bolsonaro esperava reverter o placar eleitoral com uma maquiagem no bolsa-família, adotando modelo mais generoso, e adornos tão cativantes, como o 13° pagamento.

No frenesi da pandemia, o auxílio emergencial era a certeza da conquista da simpatia dos que perderam a ilusão  de um upgrade para a classe que se mostrava emergente: os pais dos novos consumidores de danoninho.

A demorada e causticante seca, campo sedento para recebimento das glórias, pela chegada das águas do velho chico, com ajuda de propaganda que daria a paternidade a uma obra de muitos gametas, ainda espera o exame de DNA.

Quando parecia que a pandemia seria de onda primeira e única, e a vacina, definitiva, em duas doses sem reforços, e que o adversário, recém transferido de Curitiba para a prisão moral de São Bernardo, nunca mais botaria as mangas de fora, até que os institutos de opinião ainda pareciam confiáveis.

Obras que vinham em ritmo de valsa,  aceleradas em andamento prestíssimo, ganharam nova roupa domingueira e iguais promessas de sempre, como a do  Imperador Pedro II que não vendeu as joias da imperatriz e das amantes, por nunca  ter encontrado comprador.

Para conservar o patrimônio que parecia sólido, todo esforço para manter o vício do cidadão, foi tentado.

Chegou perto das multidões. Nos aeroportos, nas motociatas e palanques de inauguração.

A dinâmica da política mostrou  ao incorrigível  enfant terrible que a regra de ouro para continuar dando cartas no jogo é, antes de tudo, sobreviver.

Mesmo que tenha de repetir o sociólogo antecessor, e sem ter escrito muita coisa, para o que falou antes da vitória, pedisse esquecimento de sua posição contrária à reeleição

As tormentas e vendavais varreram do convés da errática nave, marinheiros de primeira viagem, caroneiros e até lugares-tenentes que estavam a bordo para  orientar o capitão-mor em mares traiçoeiros,  nunca d’antes navegados.

Nestas horas, os cavaleiros do centrão sempre aparecem, como uma patrulha salvadora do General Custer para impedir que o jogo seja interrompido, subitamente,  no primeiro tempo.

Mesmo que depois venham a vender a alma para o conquistador da vitória.

Havia ainda muita renda a ser transferida e água pra rolar nos canais da transposição, mas não custava  ter procurado entender melhor, o mugido da boiada nordestina.

A dificulidade é maginar como um  disgramado desses, cabra bom de peia, que parecia não estar valendo mais do que o gato enterra, mais sujo que pau de galinheiro, sem um pão pra dar pr’um doido, cantando agouros de coã, caiu, pra nunca mais sair,  no gosto do povo.

Lula só pode ter parte com o cão dos infernos.

O Cavaleiro, a Morte e o Diabo (1513) – Albrecht Dürer – Museu Metropolitano de Arte, Nova Iorque

(Publicado em 02/01/2022, com o  título ‘Os Cão’, o texto sofreu alterações)

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