4 de maio de 2024
Medicina

O GALO CANTA

Aldemir Martins (1922-2006)


Quando
Hipócrates descreveu as crises de gota, não sabia suas causas mas profetizou que os doentes apresentariam  crise de gota antes  do primum galli cantum.

O galo ainda não havia  cantado e Pedro, por três vezes,  negara  conhecer seu guia espiritual.

O mestre e depois de quatro séculos, o mestre dos mestres, sabiam que  o tronido despertador romperia o silêncio, anunciando o novo dia.

Até o início da terceira década do século XXI, nenhum cientista havia respondido  porque cantam os galináceos.

A ciência multiplicou horizontes e conhecimentos mas ainda convive com muitos mistérios.

Os galos continuam cantando e fazendo festa, desafiando o toque de recolher determinado pelos comitês científicos e mais altas autoridades sanitárias.

O médico de uma penitenciária com mais de 2000 apenados divulgou dados coletados em um ano, com os resultados das  medidas tomadas  para evitar uma tragédia anunciada, nos subterrâneos de outra maior.

Pessoas que convivem em ambientes fechados, portadores de múltiplas comorbidades, vítimas mais prováveis entre todos  os grupos de risco de contaminação.

Enquanto a pandemia avançava, serviços médicos e hospitais já não tinham espaço para atender e os números dos mortos causavam terror, no seu campo de trabalho e posto de observação, não constatou nenhum óbito.

Não houve necessidade de uma só internação.

Seguindo raciocínio e método científico observacional, concluiu que entre inúmeras variáveis, uma era comum.

Todos que vinham fazendo uso regular de determinada medicação, com fins profiláticos das parasitoses comunitárias, repetiam a resistência  mostrada  em prévias viroses sazonais.

A proteção que poderia ajudar outros, foi duramente questionada, negada, por falta de comprovação e chancela dos doutores do saber,  denunciada como pajelança que dilapida o patrimônio público.

Denunciado, o facultativo responde a processo criminal.

A campanha contra o medicamento de baixo custo ganhou os mais nobres espaços da mídia e transformou uma droga lícita que tem salvo milhões de vidas miseráveis, tendo conferido aos seus descobridores, um Prêmio Nobel de Medicina, na mais apedrejada e escarrada Geni do país de muita saúva e pouca saúde.

Não faltam doutos sapientes que nunca trataram lombrigas nem chanha,  para alarmarem efeitos adversos catastróficos.

No outro lado da notícia, o jornalismo investigativo não apurou quantas hepatites fulminantes vitimaram os desnutridos, diabéticos, hipertensos, aidéticos e tuberculosos internos nas penitenciárias.

Nem somou os inscritos nas filas para transplante de fígado.

Mesmo depois que a vacina chegar para todos, o galo vai continuar cantado toda madrugada, duas horas antes do sol nascer, avisando que a noite escura ainda não acabou.

O resto é Ciência.

 

Igreja de Santo Antônio dos Militares – Natal (1776)


(Este texto foi publicado em 06/04/2021, quanto mencionar o nome Ivermectina era sinônimo de censura nas plataformas digitais)

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