O MAIOR PERRENGUE
Há três anos, o que parecia mais uma palavra na moda, pra durar um verão, ficou de vez na prosódia potiguar
Agora, não há outra melhor para resumir uma situação inesperada e desagradável.
Uma baita confusão.
Indispensável ao contar o último arranca-rabo.
Um rabo-de-foguete daqueles.
Uma bananosa.
Uma fria.
Ou pior, uma gelada.
Ao ser ludibriado por algum vivaldino.
E cair como um pato.
Comprar gato por lebre.
Ter de usar uma tremenda saia justa.
Quando descobrir onde foi amarrar o seu jumento.
E a coisa desandar.
Ou ficar naquele puxa-encolhe.
Para não misturar alhos com cebolas, vamos entender que perrengue é esse.
No Brasil, é gíria dicionarizada há mais de um século.
Vem do espanhol perro, cachorro, que acabou no aperrear que tanto usamos, no sentido de ‘supliciar com cães’.
Evoluiu para ‘soltar os cachorros’.
O Houaiss dá como algo ‘desanimado’.
O que convenhamos, não cabe bem no caso.
Invasora, como uma frente fria que das terras austrais, entra pelo sul a cima, mas nunca havia passado de Trancoso.
A palavra que resume toda frustração, envergonhada, antes sob segredo, desembarcou com o repertório das músicas sertanejas e para ser compartilhada nas redes sociais dos papa-jerimuns, foi um pulo de cowboy dançante.
Virou coisa chique, o aperreio-ostentação.
Pra se contar a todo mundo
Quanto mais sofisticado o local da ocorrência, melhor.
Se em Paris, então.
O máximo.
Pode ser também num lugar bem longe.
Mas longe mesmo. Pra lá de Jucurutu.
Qualquer vacilo no calor de Abu Dabi dá ibope.
Serve Dubai.
Um filminho com enredo estudado, de lacoste, tremendo no frio do Sognefjorden, não é pra qualquer um.
Comida nunca deixa de explodir os likes.
Por falta de um tradutor muama é que se encara cachorro coreano ao molho pardo.
O grilo do Vietnã só perde para quem comeu (e fez selfie achando bom) para o daquela barraquinha de palha em Angkor.
E depois botou tudo pra fora.
Incluídos os bofes.
Vale até postar o cuy peruano.
Mesmo quem já encarou muito preá por aí, fica arrepiado.
Mas não deixa de curtir.
Mas não tem perrengue maior que contar uma estória e resumir tudo como uma cachorrada.
Muito vulgar.
Peba.
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(Este vocábulo entrou pela primeira vez no glossário do TL em 20/01/2020, com a hashtag #cachorradachique)
Cassius Marcellus Coolidge 1844 – 1934) foi um artista americano, conhecido por sua série de pinturas Cães Jogando Poker.
Sua arte antropomórfica, encomendada para anunciar charutos, virou ícone da arte kitsch.
