3 de maio de 2024
Coronavírus

O PACIENTE ZERO

 

A menina doente (1886) – Edvard Munch


Antes de  completar dois anos da chegada da pandemia nestes costados da
ria grande, na retrospectiva  dos acontecimentos, alguns já foram esquecidos diante de  tantas cepas e variantes.

Vésperas de carnaval, as longínquas notícias do oriente chegavam amenizadas pelo não reconhecimento do estado de pandemia pela Organização Mundial da Saúde.

Os primeiros casos que já surgiam na Europa, eram vistos como regionais,  isolados e que assim permaneceriam.

Problema deles.

Sem ocorrências em terras brasileiras, a vida seguia em ritmo de carnaval.

Aeroportos livres de restrições.

Ruas cheias de alegria e descontração. E gente.

O direito de ir e vir estava garantido a quem podia pagar cruzeiros em transatlânticos com múltiplas paradas em cidades italianas, o local da segunda grande explosão viral, que só foi ouvida quando os viajantes contavam suas aventuras para quem também adorou a folia, no Largo do Atheneu.

Não havia quem acreditasse que em pouco tempo, Wuhan e a Lombardia estariam tão perto da Praça do Gringo.

E que teríamos muito a aprender com todos eles.

Enquanto os negacionistas acreditavam nas  condições climáticas e na proteção pelo calor dos trópicos, alarmistas traduziam em números multiplicados, as previsões mais catastróficas do Imperial College de Londres.

Continuava o antagonismo, também na saúde e na doença. Na vacina e no tratamento precoce.

Mal conhecidos os resultados dos desfiles carnavalescos, a imprensa passou a pautar a próxima notícia.

Estava posta a expectativa pelos primeiros casos.

Só uma questão de dias e a verdade  diagnosticada surgiu em série.

A realidade mais cruel de todas, começou com uma pequena grande mentira.

Uma estória bem contada seria perfeita e exemplar para ser o primeiro  registro da primeira ocorrência.

Quem iria desconfiar de um jovem intérprete e cicerone para um grupo de investidores chineses, contaminado numa escapada de fim-de-semana na Pipa.

Com o fantasioso relato, a população recebeu as primeiras informações sobre cuidados e prevenção.

A imprensa surfou na onda fantasiosa.

Destaque de primeiras páginas e  plantão de notícias.

Foi nas redes sociais onde a falsa máscara e a casa caíram.

Sem esquecer da merecida quarentena,  em regime de internação hospitalar, cumprida integralmente pelo farsante.

Um mitômano de Baía Formosa, sem sintomas, sem evolução do caso clínico, sem registros da visita dos empreendedores, ficou como nosso paciente zero.

O primeiro. O que nunca existiu.

Muito sofrimento, incertezas e mais de 7777 ausências pranteadas, a marca do tempo ainda está distante do encerramento de um período e do fechamento de um trágico ciclo.

Nem a  vacina redentora  trouxe a tranquilidade esperada.

A confiança da imunidade ainda não veio.

Continuamos acreditando na Ciência, mas com muitas dúvidas ainda. Em  relação à duração da cobertura  e proteção contra as novas variantes.

Dois anos do início de tudo e as poucas certezas de então..

Só vacinar não resolveria.

Era preciso aprender a conviver com o invasor.

A nova cepa trazia no seu RNA e etimologia, a explicação para sua natureza, e uma imensa esperança que tornou-se real.

Ômicron: o mais rápido; o mais breve

A tempestade (1893)
Amor e dor (1894)
A ansiedade (1894)

“Quero mais do que uma mera fotografia da natureza. Não quero pintar quadros bonitos que sejam pendurados nas paredes dos salões. Quero criar, ou pelo menos, estabelecer as bases de uma arte que dê algo à humanidade. Um arte que prenda e envolva. Uma arte criada do coração mais íntimo de alguém. “

Edvard Munch (1863-1944)

(Publicação original em 08/02/2022)

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