2 de maio de 2024
Solidariedade

O POVO DAS RUAS

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Dar de comer aos famintos (1715) – Francisco Lopes Mendes – Igreja da Misericórdia, Évora, Portugal.


Em
Paris, a prefeitura foi bem longe. No rigoroso inverno de 2018, sem outra alternativa,  abrigou em dois salões da sua sede, o Hôtel de Ville,  cem moradores de rua.

De atitude mais significativa, não se tem notícia.                     

O ato da prefeita Anne Hidalgo não ficou marcado como uma arrojada jogada de marketing político e pessoal.                          

Seguindo seu exemplo, em pouco tempo, mais de 1500 abrigos temporários foram abertos na França. Sem licitações, nem dispensas de.

Somente movidos a compaixão. E vontade.

Prédios públicos desocupados ou subutilizados, acolhendo e salvando vidas dos cidadãos, que donos de todas as ruas do mundo, incluída a Champs-Élysées, a mais famosa, não tinham onde dormir.

O Papa Francisco mandou instalar, entre uma capela  e um museu, uma lavanderia para a população carente.  E os mais necessitados têm direito a bônus para receber medicamentos na farmácia da cidade-estado.

Com o confisco dos bens dos oligarcas russos, o governo inglês anuncia que as mansões dos que juntaram fortunas à sombra do tirano, servirão de abrigo para os refugiados ucranianos.

Na maior e mais rica capital brasileira, uma área degradada é a lândia mais conhecida do país.

Tem vida e regra próprias que não são as mesmas do resto da sociedade, e por isso, as soluções, sempre amparadas pela força (bruta) policial, falharam.

Quando a miséria se mistura com dependência  e tráfico de drogas, o problema parece insolúvel.

Em Natal, não é diferente.

Nem desiguais são os olhos  dos que fingem nada ver.

Só despertamos da letargia quando  a cracolândia ou o alcoolódromo se instala no dobrar das nossas esquinas.

Grupos de etilistas reúnem suas histórias e desencantos, juntam-se  em pequenos grupos e ocupam  lugares públicos, onde encontram o último abrigo.

Dividem o que têm e o que bebem.

Nos bairros residenciais, sobrevivem das sobras dos abastados. E dos perdões que transbordam nas lixeiras.

Assistidos pelo serviço social, consultório na rua, pela ação de grupos religiosos e de voluntários, têm recebido ajuda, mas o destino é bem maior do  que tudo que lhes oferecem.

Quando levados para instituições,  não se adaptam às regras feitas para o outro mundo, que já não habitam há muito tempo.

Não se espera que a prefeitura  transforme o Palácio Felipe Camarão em hospedaria.

Nossa rive droite é bem mais embaixo.

Pede-se aluguel social.

A ser administrado pelo líder de cada grupo.

Depois, as demais abordagens, condutas e tratamentos.

Desabrigados pelas chuvas e ameaçados de desabamentos já recebem.

Por que não estender também aos outros de nenhuma sorte?

Ao relento.

Ao desalento.

Igualmente.

Desabrigados.

Pelo calor inclemente.               

Pela falta de calor.

Desumano.

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Dar de beber aos que têm sede (1715) – Francisco Lopes Mendes – Igreja da Misericórdia de Évora, Portugal

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Detalhe: Santo Elias e a Viúva da Cidade de Sarepta [Dar de Comer a quem tem fome] 1715 – Francisco Lopes Mendes- Igreja da Misericórdia de Évora, Portugal

One thought on “O POVO DAS RUAS

  • GERALDO Batista de Araújo

    Mais bom do que mió.

    Resposta

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