O QUE JÁ FOI PERIGOSO FALAR SOBRE A PANDEMIA
Outros assuntos até que apareciam, mas não empolgavam.
Há dois anos, fotos e filmes enviados de Marte pela Perseverance emocionavam e faziam pensar que os filmes de ficção e os estúdios da Netflix não conseguiam representar tanta beleza e solidão.
Mas tudo que interessava na realidade, era um enorme exercício de futurologia, baseado em cálculos matemáticos, adivinhações e premonições, na projeção de tendências e previsão da data provável mais aguardada.
Quando tudo no planeta Terra estaria sob o controle que nunca teve.
A segunda onda chegara para negar o otimismo de quem pensava que o pior havia passado, e a vacina seria salvadora e permanente.
Dos antigos conhecimentos, a constatação que enquanto houvessem hospedeiros susceptíveis, o vírus seguiria em disseminação, sofrendo mudanças pelo caminho.
A prova veio em sotaques variados, com o passaporte sanitário carimbado, em Joanesburgo, Manaus e na Corte de St. James.
Cepas e variantes já constavam do vocabulário e das preocupação dos sobreviventes.
As vacinas não fugiam da verdade transitória e da máxima – nunca desmentida – da medicina clássica:
Quando há vários remédios para uma mesma doença, é sinal que nenhum deles satisfaz.
Alarmistas, quase negacionistas, céticos, pessimistas de sempre, discutiam a eficácia da imunização, baseados em relatos da contaminação de pessoas previamente vacinadas.
Os fabricantes declararam o percentual do êxito constatado nos apressados testes.
Se 52% não contraíam a doença em determinado tempo, era o mesmo que não dizer que 48% adoeciam.
O cálice bento permanecia meio vazio.
Mutações genéticas à parte, a expectativa era que dos vacinados que adoecessem, a intensidade dos sintomas seria mais leve, o número de internações menor e as mortes, raras.
Tivesem ou não tomado remédio pra piolho.
Da Universidade Johns Hopkins, o Professor Marty Makary foi o portador da mais auspiciosa notícia.
Com o ritmo de distribuição das vacinas alem do esperado (dois milhões de doses em um único dia), ele acreditava que a imunidade natural estava perto de ser alcançada e a propagação do vírus, próxima do fim.
Acertou bem na proteína spike do vírus.