O SEGREDO DAS MARÉS
Cinquenta anos depois, os 90 milhões de técnicos de futebol se transformaram em 212 milhões de imunologistas.
Mesmo sem concluir o segundo ano do curso de imersão total, o assunto é popular e de domínio público.
O homem é um animal que evolui por ter um outro aguçado sentido, além dos cinco conhecidos.
A capacidade de fazer previsões, tem garantido a sobrevivência e o domínio da espécie sobre as demais.
Observando as mudanças no tempo, antecipando o melhor momento para plantar, por sucessivas gerações, com um pé e o pensamento no que ainda virá.
A permanente dúvida de como será o amanhã é o sentido da vida.
–E se já estiver tudo escrito, Maktub?
Aqueles que se destacam pela habilidade de antecipar o conhecimento, recebem reconhecimento. São pessoas especiais.
Profetas. Nos sertões, cientistas.
Com o passar dos tempos a necessidade de se preparar para o que ainda está para acontecer, obrigou a humanidade a se armar de outras ferramentas.
A visão de futuro possibilita o sucesso nos negócios.
Os novos empreendimentos dependem de quem vê antes como será o que ainda não existe.
Não basta ter feeling, é preciso provar que o pressentimento é igual ou muito próximo do que está para acontecer.
O bom comentarista esportivo faz o espectador acreditar que a troca de um jogador ou mudança tática, modificará o resultado da partida.
A chance de acerto continua a depender do resultado, mesmo se o técnico da equipe não fizer as modificações imaginadas na teoria.
Mesmo ainda longe das eleições, pratica -se intensamente a futurologia, em saturantes divulgações de pesquisas de opinião e tendências de votos.
Os louros da vitória serão divididos entre eleitos e institutos de pesquisas que acertarem na mosca ou pelo menos, não muito longe do centro do alvo.
A pandemia trouxe este know how acumulado para o acompanhamento da sua evolução.
Estudos matemáticos em desenhos gráficos, mostram tendências de crescimento, estabilidade, ou redução do número de casos.
Os dados coletados vão se acumulando em curvas que, atingido o apogeu, tornam o que ainda acontecerá, previsível.
Incontrolável, a doença avança, recua e sem cura ou prevenção eficazes, continua em outras variantes e novas cepas.
Como as ondas do mar.
Aprender com elas é o caminho.
Mal quebram na praia, outra já se forma e chega igual à que deixou de existir.
São sempre parecidas mas não, as mesmas. Mutantes por natureza.
Quem está perto da arrebentação aprende que enfrentar a força inevitável, de peito aberto, é tombo certo.
As marés têm ritmo que não muda.
O banho pode continuar prazeroso.
Mas é preciso ficar atento aos movimentos.
Tem a hora de mergulhar.
A onda vai passar.
E a outra… e a outra… e a outra…