28 de abril de 2024
ComportamentoPolícia

O ÚLTIMO AMOR

O Amor e a Morte (1799) – Francisco de Goya – Museu do Prado, Madri


Entre Remígio e Montadas, mais p’ras bandas de São Sebastião de Lagoa de Roça, a cena do crime.

Areial.

Há cem anos, vocação de pousada dos tropeiros da Borborema.

São mais de seis mil almas vivendo da terra, da prefeitura e do bolsa-família.

Foi lá que Luiz encontrou Eudivânia e viu na mulher experiente, a estabilidade que andava procurando.

Para quem já andava cansado da vida retirante, o teto garantido.

O resto, Deus não deixaria faltar.

Tinha saúde e disposição para o trabalho.

A mulher com filho quase da mesma idade do companheiro, imaginou que um novo iria selar o relacionamento.

E há onze meses, cuidava do fruto do  amor maduro.

Lugar de muros baixos.

Não ligou muito para os primeiros comentários maldosos e invejosos.                            

Bonitão, era natural que atraísse  outras mulheres.

Falaram em mais três.

Só não acreditava em nada pra valer.

Quem tem suas cabritas que prenda.

Os bodes estão soltos. Sempre foi assim.

Até desconfiar que o pecado também estava morando ao lado.

A vizinha com quem dividia as faltas de fim de mês, era a última pessoa que iria imaginar como a nova conquista do seu don juan.

Tinha de ter certeza antes de uma lição para a sirigaita nunca mais esquecer. Coisa de mulher pra mulher.

Depois, tudo voltaria ao normal.

Era o plano.

O caso era mais sério e antigo.  Bem debaixo das ventas.             

Tinha de chamar o seu Lula aos carretéis.

Ninguém discute uma relação  sem traumas. Sobrou pra ela, em sopapos e olho roxo.

Para quem perguntasse, um escorrego besta e uma quina de mesa.

O plano foi mudando.
Até de alvo.

Bem que já tinha sido alertada.

São todos iguais.

Pra resolver sua vida, o mal precisa ser cortado pela raiz.

Aquela voz interior que só ela escuta.

De manhã, de tarde e de noite.

Sai da missa sem entender o que disse o padre.

Quase não dorme.

Ninguém com quem falar.

O planejado não era mais o mesmo.

Depois do que fizer, nada restará.

Agora os dois ficariam juntos.

Para sempre.

Explicou tudo numa carta ao menino de 18 anos que já tinha arribado pra tentar a sorte em Campina.

E amolou a peixeira.

O Três de Maio (1814) – Francisco de Goya – Museu do Prado

(Esta crônica policial foi publicada em  28/8/2019)

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